A vida em si tem um nome importante em seus créditos: Dan Fogelman. Roteirista que iniciou a carreia escrevendo alguns filmes para a Disney, mas que ganhou a atenção mundial quando produziu e escreveu a série This is Us. E para todo e qualquer fã da família Pearson, apenas por conter o nome de Fogelman na produção de qualquer filme, este já merece atenção. Imagine então no caso de A vida em si (Life Itself, 2018), onde Fogelman também escreve e dirige. Antecipando o que todos esperam: sim, são duas horas inteiras de This is Us.
E antes de falar diretamente do filme, preciso novamente citar This is Us para justificar sobre o que este filme conta: relações humanas. Mesmo glamourizando muitos aspectos cotidianos e idealizando em demasia alguns personagens, existe um ponto que This is Us é irretocável. O modo e a forma como as pessoas influenciam nosso modo de ser, atitudes e por consequência toda a nossa vida.
É seguindo essa trilha que “A vida em si” se apresenta, onde acompanhamos as histórias individuais de seus sete personagens, que vão se conectando com o avançar da trama. Este é um daqueles filmes que quanto menos se sabe da história melhor. De importante, só o fato de que ela é contada por episódios, cada um contendo a história de um personagem.
O importante aqui não é saber aonde a história vai chegar, mas como todos eles são influenciados pelos acontecimentos que presenciam. E não há como negar que o roteiro de Fogelman faz isso muito bem. É sabido para onde a história está te levando, mas é inegável se ver preso aos acontecimentos. Seja por empatia ou similaridade. Exemplo disso é a cena do quarto, na conversa do avô com sua neta. Ao deparar-se com ela fica claro que a história toda foi feita para ser levada aquele momento, e ele não desaponta.
Ao narrar a vida, Fogelman faz também bom uso das elipses que trazem a passagem do tempo. Duas em especiais são de encher os olhos, que junto a uma bela fotografia e uma trilha sonora delicada e emotiva (destaque em especial para as canções em espanhol) proporcionam belos momentos. As passagens de tempo que ocorrem na cozinha de uma casa e nos campos de oliveira, apesar de não oferecerem nada de novo, propiciam alguns dos mais belos momentos do longa.
Trilha sonora esta que muitas vezes invade os espaços da história se misturando a ela e auxiliando na narrativa, e servindo, principalmente para um fechamento de trama simples e assertivo.
Destaques também para a forma como o diretor aborda a sua própria narrativa dentro da história. Aqui, ele brinca com a ideia do narrador não confiável, e da impossibilidade de ser imparcial em uma narrativa, uma vez que esta é contada por alguém, que por sua vez, possui seu ponto de vista da história. É uma construção que tem início no humor, mas que toma tons mais densos com o decorrer da trama.
E esse tom questionador que o diretor semeia durante todo o filme é o que deixa o longa vivo por muito tempo após a seção terminar. Afinal, aquelas histórias foram mesmo contadas daquela maneira ou tiveram a interferência do tal narrador? E se tiveram, realmente importa para alguém? E se somos nós os narradores da nossa própria história, por que é tão difícil de mudar o rumo das coisas? Não seria uma simples questão de ponto de vista?
O interessante de A vida em si é que todos esses questionamentos surgem com o final do filme. Sim, é daqueles que, enquanto os créditos sobem, você leva um bom tempo para sair da cadeira. Alguns por contemplação, outros por empatia, e tem aqueles que por felicidade. Mas sempre vai ter um ou outro que vai sair incomodado e pensativo. Entendo que esses últimos possam sofrer os mesmos questionamentos que os meus. Pois, afinal, se nossa vida é uma simples história, naturalmente ela está suscetível a interpretações de narradores não confiáveis. É um sentimento controverso saber que tudo o que fazemos aqui, no final, ficará ao único e imponderável critério daquele que a ler ou ouvir. Obviamente, se tivermos a sorte de um dia sermos ouvimos.
Ao final, tudo se resume a uma nova e inútil tentativa do ser humano de tentar ser algo a mais daqui que nunca foi designado a ser.
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