Se
por um lado temos um espectador empolgado em ver sua voz chegar a alcances nunca
antes imaginados, do outro temos os meios de comunicação, que já possuem esse
poder e parecem cada vez mais usá-lo de maneira irresponsável e fútil. Junto aos
meios de massa, temos as então “celebridades” que viram sua opinião ganhar
grandes proporções, justamente em virtude da internet. Em ambos os casos temos
exemplos de influências inconsequentes e que até hoje não tem suas sequelas
calculadas.
Em
parte a isso, é importante lembrar do discurso sobre a liberdade de expressão,
onde todos tem o direito de dizer o que bem entender a quem quiser ouvir. A
democracia da internet propicia isso, usá-la para defender seu ponto de vista não
tem nada de errado. Mas da mesma forma que ela é usada para informar a
sociedade de crimes de corrupção do governo, ela pode também promover apologia
a crimes terríveis, como o racismo e contra a mulher. São exemplos extremos,
que este texto não pretende tratar, mas destaco dois casos simples analisados
na tv e na internet que podem ilustrar brevemente o poder que esses canais e
pessoas possuem.
Em
certo domingo bucólico de chuva, o programa Domingão do Faustão entrevistava a
atriz Suzana Vieira. No quadro, pessoas da rua ou da plateia faziam perguntas a
atriz, que respondia na sequência. Visto que o programa é ao vivo, é muito
provável que a atriz não tenha tido acesso as perguntas previamente e
respondido na hora, tendo como única fonte seu próprio conhecimento. Até aí
tudo bem, as duas ou três primeiras perguntas eram sobre a vida pessoal da atriz,
que respondia com autoridade no assunto. Acontece que as perguntas seguintes
tratavam da vida pessoal do perguntante. Ou seja, as pessoas passaram a contar
histórias de suas vidas e a pedir “ajuda” a atriz para como lidar com a
situação exposta. Os exemplos envolviam relacionamentos, problemas familiares, com
vizinhos, entre outros.
Pesquisando
na internet, vi que Suzana Vieira começou a carreira como dançarina de balé e
depois entrou na profissão que exerce até hoje. Nenhum diploma de curso de
psicologia foi encontrado em seu currículo. O possível critério da emissora, é
que os quatro casamentos de Suzana lhe fornecessem know how suficiente para
passar conselhos de relacionamento para milhões de pessoas em um dos programas
de maior audiência do país. A cada resposta da atriz, o apresentador comentava
efusivo a personalidade forte de Suzana. No mínimo um desrespeito forte aos
profissionais de psicologia e a inteligência do telespectador.
O
outro exemplo vem da internet, do auto intitulado vloggger Felipe Neto. Seu
canal no Youtube tem possui mais de 1 milhão de pessoas inscritas, e as
visualizações de seus vídeos que chegam a até 14 milhões de views. Famoso as
custas de criticar astros e filmes pop, o vlogger usa seu canal para xingar e
criticar assuntos aleatório e claro, que gerem repercussão (lê-se polêmica).
Não se pode dizer que a estratégia de Neto é errada, afinal o rapaz conseguiu
seu lugar ao Sol. Questiono somente o custo ou o revés de seu sucesso.
Assistindo
a cinco minutos de qualquer um de seus vídeos percebe-se seu conhecimento
limitado sobre o que fala. Provavelmente por conta disso, Neto recheia seus
vídeos de palavrões e gritos desnecessários.
Acontece que o público que assiste a estes vídeos, é em sua maioria,
adolescentes de 12 a 18 anos. Crianças que estão descobrindo o mundo e
escolhendo suas influências. Havia tempos em que Neto produzia um vídeo por
dia. Imagine então o peso da opinião de um jovem de 27 anos para uma criança de
doze, que diariamente é bombardeada com um conteúdo sem nenhuma preocupação de
seu autor para com seu público, a não ser sua autopromoção.
Outro
exemplo muito simples é do programa de rádio Pretinho Básico, que envolto em
uma embalagem humorística revela-se um canhão sem limites de opiniões e
discussões um tanto quanto controversas.
É
claro que nesses casos, o controle a esse conteúdo vai muito mais dos pais do
que do vlogger. Mas a questão a ser debatida é que há anos opiniões errôneas,
pesadas – por mais que defenda a liberdade de expressão – contaminam crianças,
adolescentes e adultos de maneira irresponsável e perigosa. É inadmissível que
uma atriz – muito ruim diga-se de passagem -, por ser famosa e ter quatro
casamentos sirva de referência para que o grande público tire conclusões da sua
própria vida, ao mesmo tempo em que não tem nada de educacional para
adolescentes basear seus primeiros conhecimentos sobre o mundo em uma figura da
internet sem nenhum preparo adequado. Não culpo os personagens dessas ações,
mas a falta de discussão sobre o quão perigoso pode ser uma opinião distribuída
sem nenhuma preocupação com o público que a recebe. E neste caso, não vejo
exagero no exemplo dado ao fim do último texto. Quanto uma mente, com o mínimo de
persuasão, aliada a um poder de penetração gigantesco de uma emissora de tv ou
da internet pode influencia os demais? A resposta, não apenas está sendo
escrita, como muito em breve será revelada!
A
proposta de discussão desses últimos dois textos é pessimista, porém é curioso
que para conclusão dessa ideia, me passou pela cabeça um antigo texto de Carl
Sagan, revisto recentemente. Sagan é um dos maiores astrônomos que o mundo já
viu, mas sua obra chama muito a atenção pela humanidade e emoção que transmite.
Mesmo dedicando a vida sobre as fronteiras infinitas do universo, o autor nunca
esqueceu a essência que faz de nós seres humanos. Minúsculos, perdidos num
canto qualquer do universo, mas da mesma forma, humanos.
PS: A quem interessar, indico o filme “A Onda” que trata
como uma opinião pode sim, tomar proporções gigantescas.
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