Costumo comentar que no mundo do marketing, o intervalo de uma semana sem estudar sobre o assunto já o deixa desatualizado sobre alguma novidade da área. E olha que talvez uma semana seja muito dentro de um segmento que tanto se transforma e onde o timing é tão importante. Mas acredito também que não seja uma característica exclusiva do marketing. Me arrisco dizer que praticamente todo o mercado de trabalho, passa por uma assustadora transformação. É por essas e outras que o termo “life long learning” se popularizou tanto e já é uma realidade.
Para quem nasceu em um mundo onde o aprender era um escada com degraus (ensino fundamental, ensino médio, universidade, pós…), hoje ele está mais para uma tela touchscreen com inúmeras opções de escolha.
E em um mundo de tantas transformações, me chama a atenção que o setor de ensino ainda seja representado pela clássica sala de aula. Talvez com a pandemia, essa sala tenha se transformado literalmente em uma tela, mas que carrega consigo sua essência de uma aprendizagem passiva, lenta e monótona. Não houve uma transformação no modelo, apenas uma mudança do canal de transmissão.
Por vir de uma família de pais professores, a educação sempre esteve na minha vida, e este assunto em si, vira e mexe toma corpo dentro dos meus pensamentos. Talvez porque nunca vi a educação como um lugar, mas como uma forma de prazer e de vivência. E sempre me questionei porque para muitos a educação é simplesmente uma obrigação a ser cumprida.
No entanto, é muito perceptível que esta visão de muitos sobre o tema não é sobre ele em si, mas sobre a forma como ele é concebido. Que concordamos, já não conversa mais com a forma como o mundo caminha.
A educação hoje está na internet. E tratando-se agora da minha área, talvez a melhor formação em marketing que um profissional de hoje possa ter está no YouTube. Gratuita, disponível 24 horas e de certa forma interativa.
A educação é fundamental para um mundo melhor, mas ela também precisa se adaptar ao mundo e à sociedade em que vive.
No entanto, mesmo com tamanha facilidade de acesso ao conhecimento, há anos ouvimos de empresas a mesma preocupação por mão de obra qualificada. E se no marketing esta é uma clara realidade, em outros setores, como TI, a preocupação é ainda maior. O gap de profissionais é tão grande que empresas oferecem treinamentos gratuitos de programação e desenvolvimento. Se não há mão de obra, as próprias companhias estão arcando com a responsabilidade de formá-las.
E isso dá margem a um mercado gigantesco que vem disruptando o então tradicional mercado de educação. São a edtechs, startups que buscam transformar o ensino no Brasil e que já são mais de 566, segundo dado da Associação Brasileira de Startups (Abstartups) em mapeamento feito em 2020 e representam o maior segmento entre startups no Brasil (17,3%).
O gap é tão grande que o relatório EdTechXGlobal mostra que para que o atual nível de demanda por estrutura educacional seja sanado, seria necessário construir duas universidades por dia pelos próximos 20 anos.
É definitivo que a educação passa e precisa de mudanças. Porém, me chama atenção não ver players tradicionais deste mercado disputando esse novo momento. Pelo contrário, os principais conglomerados e universidades do país parecem estar mirando para outro caminho, apostando em formações a distância, cada vez mais comoditizadas e mantendo um modelo de ensino que todos já conhecem. Do lado oposto, edtechs como a Descomplica, Wiser, Arco, Grupo Primo e DNC vem construindo uma nova forma de fazer educação. Mais moderna, diretiva e prática. Sem falar nas inúmeras iniciativas de empresas que encontram na educação e no conhecimento uma maneira de divulgação própria. Transmitir conhecimento e informação é uma das formas de visibilidade que mais funcionam atualmente, seguindo os conceitos do marketing de conteúdo.
A educação é fundamental para um mundo melhor, mas ela também precisa se adaptar ao mundo e à sociedade em que vive. A educação é líquida e ainda carecemos de players que percebam o espírito do nosso tempo e promovam essa transformação tão necessária.
A cultura startup nos fala que toda a solução precisa resolver uma dor. Atualmente não consigo ver uma dor maior para a sociedade que uma formação educacional atual, acessível e de qualidade. Principalmente na construção de um mundo cada vez mais tecnológico e transformacional que estamos e estaremos vivendo. Desde habilidades técnicas, mas principalmente relacionadas a outros quesitos como empreendedorismo, cidadania, educação financeira, inteligência emocional, soft skills, entre outros.
Raphael Avellar, um dos principais marketeiros do Brasil hoje, desenvolveu uma equação para auxiliar os profissionais a escolher qual curso educacional fazer. Ela diz:
C + E + Ex / IE
(Credencial + Educação + Experiência dividido pelo Investimento educacional)
Ou seja, Credencial representa o que e como aquele curso vai te credencial para algo (que para profissões como medicina e direito são absolutamente necessários, por exemplo), Educação é o aprendizado de fato, o que você leva para sua experiência pessoal ou profissional. Experiência gira em torno de tudo o que você absorve, além da aprendizagem em si, durante o processo. Nesse caso o networking, por exemplo, é um dos fatores de extrema relevância. E por fim, claro, o investimento financeiro que será feito para alcançar tudo isso. E o resultado é simples, se esse denominador foi menor a tudo o que será recebido em troca, estaremos fazendo um bom negócio.
É claro, educação não é uma ciência exata, mas deixando de lado o detalhismo e olhando o conceito em si, para qualquer importante decisão da nossa vida, dificilmente abrimos mão de um cálculo básico de custo e benefício. Com educação, claro, não pode ser diferente.
A internet e o atual mundo digital em que vivemos se colocam como um cenário fantástico para por em prática uma nova forma de fazer educação. Ouvimos muito o conceito de educação 4.0, mais tecnológica, de aprendizado ativo e movida pelas culturas makers e digital. Não tenho dúvidas de que as mais de 500 startups citadas neste texto caminham para esta nova revolução. E vejo o marketing como a ferramenta fundamental para esse novo cenário. Hoje, é dele o poder de elevar uma marca de pequena expressão a disputar espaço com gigantes. Por ironia do destino, a empresa de educação que melhor aprender os conceitos de marketing no digital sai na frente nesse jogo.
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