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Processo mata a criatividade?

O escritor está com uma crise de criatividade. Se isola em uma cabana abandonada próxima a um lago. E lá, depois de meses, regressa com uma obra-prima literária. Essa história contada para representar os gênios criativos é muito famosa e representa, de maneira errônea o que é ser criativo. Assim como os momentos “eureca”, os insights inovadores que surgem no banho ou em algum momento inesperado. Tudo isso pode até acontecer, mas dentro de um ambiente de negócios, depender de vislumbres de criatividade pode ser muito arriscado. Melhor que isso é cultivar a criatividade dentro da sua rotina de trabalho, e existem formas para deixar seu dia a dia mais propício para a SUA criatividade se desenvolver.





O sua ficou em caixa alta de propósito porque muitas vezes quando o assunto é criatividade, a imagem de artistas, designers e pintores é a primeira a surgir, seguida da frase “eu não sou criativo”. Mais proferida por aqueles que tem um estilo de trabalho mais metódico e organizado. O que acontece é que justamente esses dois fatores podem contribuir e muito para o pensar criativo.

Não à toa, o modelo de conceber ideias e criação é chamado de processo criativo, e que geralmente envolve quatro etapas: Preparação, Incubação, Inspiração e Implementação. Ou seja, nada é ao acaso, tudo exige desenvolvimento e construção. Até mesmo aquele insight no banho.


“Método e organização: é justamente esses dois fatores podem contribuir e muito para o pensar criativo.”

 

Deixo aqui alguns pontos que tendem a estimular o processo criativo e serem implantados rapidamente:

Atividade física e alimentação: nada acontece sem um corpo e uma mente saudável. É a linha de partida. Estar bem consigo mesmo te deixa mais propício ao pensar diferente e se provocar ao novo;

Fuja do normal: busque ações e atividades diferentes dentro da sua rotina. Ir ao trabalho por uma via alternativa, experimentar almoçar em um lugar diferente ou programar um final de semana nunca feito. O diferente pode fazer parte da rotina também, como ler sobre algum assunto que você nunca pesquisou ou assistir a uma série e não tem nada a ver com você. Olhar diferentes pontos de vista abre sua cabeça para novas formas de pensar e interpretar.

Retire o não do vocabulário: “não dá”; “não consigo”; “não é pra mim”; “não nasci para isso”... Se auto boicotar por crenças internas não é um bom indício para uma busca por um olhar mais aberto e plural. O simples fato de se policiar para retirar o não do vocabulário já é um excelente caminho.

Meditação: Comece por 5 minutos sentado em um sofá, e depois se desafie por uma evolução. Aqui não vale usar o não como no ultimo tópico. Todo mundo consegue. Meditar reduz o stress e diminui a ansiedade, inimigas de um pensar mais criativo.

Ócio criativo: Já diria Domenico de Masi, o autor do termo: "existe um ócio alienante, que nos faz sentir vazios e inúteis. Mas existe também um outro ócio, que nos faz sentir livres e que é necessário à produção de ideias, assim como as ideias são necessárias ao desenvolvimento da sociedade." O ócio aqui é uma vida mais prazerosa e com tempo e qualidade para o lazer a diversão. Conciliar essas frentes aumenta a criatividade e a produtividade. Sim, o óbvio as vezes precisa ser dito.


Organização e disciplina: Há muito para ser desmistificado quanto a confusão de que disciplina e criatividade são coisas distintas. Ter uma agenda organizada e ser disciplinado nas atividades te permite abrir espaço para fazer algo diferente, experimentar algo novo e até mesmo não fazer nada. O espaço para o pensar ou para a pausa também precisa estar dentro da agenda e são essenciais para manter-se de pé dentro de uma rotina atribulada e corrida.

Por fim, é sempre importante lembrar: ser criativo não significa reinventar a roda. Se criativo é encontrar soluções rápidas para problemas do dia-a-dia, é conectar ideias, muito mais do que criar algo novo. E principalmente, todo ser humano nasce criativo. É algo inerente nosso e que o dia a dia nos tirou. O esforço é para retomar algo que fez a nossa raça chegar aonde estamos hoje; o poder de se reinventar.


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