Pular para o conteúdo principal

Análise de caso – marca L’Or


Como a L’Or acertou em cheio na sua estratégia de marketing e precisou de “zero propaganda” para chegar a isso.

Diferente do que muitos pensam (ainda), o marketing não está restrito apenas a propaganda de um produto. Uma estratégia de marketing bem construída perpassa praticamente por todas as etapas de desenvolvimento de um produto ou serviço, da concepção a sua morte.
A entrada da L’Or no mercado brasileiro é um bom exemplo de como executar uma estratégia bem sucedida nas etapas prévias de produção até a chegada ao consumidor final. Veremos aqui algumas delas:



Posicionamento:

A marca está posicionada na categoria de cafés premium, e construiu toda a sua trajetória buscando uma aproximação com o público consumidor dessa categoria. Por se tratar de um mercado relativamente restrito, a empresa também destinou esforços para atrair novos adeptos e curiosos, ação justificada visto algumas de suas estratégias tomadas que veremos a seguir. Outro fazer relevante é a estratégia de comunicação, que apesar de manter uma linha principal de pensamento, se faz diferente para cada uma de suas categorias.


Trade marketing

A L’Or se posicionou muito bem nas prateleiras de supermercados. Seus produtos têm visibilidade clara, tanto pela quantidade de unidades, quanto pela própria posição na gôndola. Sempre na divisa entre do café normal para o premium.
A empresa também optou por selecionar bem seus pontos de venda, e deixar seu produto restrito a apenas alguns estabelecimentos. Obviamente, as grandes redes. Isso acaba gerando um certo senso de escassez, que faz bem não só para o produto, mas para o local, uma vez que café é exemplo de produto que atrai clientes.


Design do produto

De nada adiantaria um excelente espaço de gôndola se o produto não fosse atrativo e chamasse a atenção de seu público. E definitivamente o produto é. A marca é destaque na capa e a cor preta e dourada das embalagens demonstra qualidade. As informações são precisas, claras e didática, e resumem bem as características do produto. A forma de classificar a intensidade do café por uma escala de números também facilita a decisão do consumidor, que já se vê perdido frente a várias opções. Para o novo consumidor, a marca que melhor facilitar sua decisão sai na frente.




Qualidade do produto

Mas de nada adiantaria uma embalagem perfeita se o produto dentro não fosse de qualidade. Além disso, outros fatores na própria embalagem reforçam esse sentido e tentam proporcionar uma melhor experiência ao cliente. Na categoria de café torrado, por exemplo, a embalagem tem um vazamento para o produto melhor respirar dentro da embalagem (ele não é a vácuo), possui sugestões de preparo e de como melhor utilizá-lo no verso, contém uma fácil opção de abre e fecha e uma colher dosadora no interior da embalagem. Esses detalhes aumentam a percepção de qualidade do produto, e mostram preocupação com a experiência sensorial do consumidor


Preço

Mesmo com todas essas características e com uma qualidade, de certa forma, acima dos demais, o preço de L’Or, não é o maior na comparação com os principais concorrentes e fica próximo da média do mercado, pendendo um pouco para cima. Interpreto essa decisão como uma estratégia de entrada de mercado. O preço praticado reforça a qualidade do produto ao mesmo tempo que proporciona ao consumidor a oportunidade de experimentá-lo. Essa estratégia também não afasta o perfil mais conservador quando se trata de mudanças de hábitos.




Propaganda

A L’Or somente optou por trabalhar em propaganda quando lançou no país sua linha para cápsulas de café. E toda a propaganda está restrita a este segmento de produto, que no momento é o mais rentável para a empresa. O posicionamento seguiu como categoria premium e intensificou a lembrança de marca, o que auxilia também para todas as demais categorias que atua. A estratégia de marketing aqui novamente chama a atenção por dois fatores: 1) a marca mantém seu status de qualidade e categoria premium; 2) as cápsulas custam menos que a líder de mercado Nespresso e são compatíveis a máquina da Nestlé.
A questão chama a atenção porque a empresa por trás de L’Or é detentora de outras grandes marcas de café, que por sua vez possuem máquinas de cápsulas, mas que não se assemelham a categoria premium. A decisão de manter seus produtos compatíveis com a concorrência, apesar de manter o nome Nespresso como referência de café em cápsulas no mundo, reforça a interpretação de ser um produto de qualidade. Essa compatibilidade, se feito com uma segunda marca de seu portfólio (Pilão, Senseo), muito provavelmente diminuiria o share de mercado de L’Or e reduziria seu impacto junto ao consumidor. Certo ou errado, essa estratégia fez das cápsulas de L’Or a segunda maior marca em número de vendas no Brasil, perdendo apenas para a própria Nespresso.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O amor é a flor da pele e eterno!

“Antigamente, se alguém tivesse um segredo que não quisesse partilhar, subiam uma montanha, procuravam uma árvore, abriam um buraco nela e sussurravam o segredo para dentro do buraco. Por fim, cobriam-o de lama e lá deixavam o segredo para sempre” A frase acima é dita por Chow Mo-Wang a seu amigo Ping, no filme Amor à Flor da Pele (2000), do diretor chinês Wong Kar-Wai, em uma das histórias de amor mais bem contadas do cinema, segundo muitos críticos. Kar-Wai consegue em seu filme dedicar ao amor a tradução que talvez mais o represente: a eternidade, ou o popularmente, até que a morte nos separe. Na história, conhecemos sr. Chow e a srta. Li-zhen Chan, os dois se mudam para Hong Kong da década de 60 com seus respectivos cônjuges no mesmo dia, onde ocupam quartos vizinhos de um mesmo edifício. Em comum, além do lugar onde vivem, os dois tem a ausência total dos parceiros, e posteriormente uma descoberta: seus cônjuges estão tendo um caso entre si. A descoberta aproxi

Volver

Falar de Almodóvar nunca é fácil. Uma das características do cineasta espanhol é seu atrevimento e coragem em propor nas telas seus conceitos e ideias. E é de atrevimento e coragem que se faz esse texto, ao tentar transpor em palavras um pouco de um dos filmes que mais aprecio em sua filmografia: Volver. Volver conta a história de Raimunda (Penélope Cruz), mulher casada e com uma filha de 14 anos, que ainda tenta superar a morte de sua mãe, enquanto cuida da tia. A personagem de Cruz, inclusive, é quem carrega o filme por completo e dá alma à trama. Cada cena da atriz renova o filme, que composto por um excelente roteiro, nunca deixa a história se esvair ou perder força. Não à toa, em muitas vezes vemos Penélope enquadrada ao centro da tela, tomando para si toda a sustentação do longa. Traduzindo essa percepção para a personagem Raimunda, é assim que ela também encara a sua vida. Uma vez que, mesmo com um casamento complicado, dificuldades financeiras crescentes e um passado

Sobre jornalismo, marketing e uma das maiores tragédias do país

Eu não entendo de prevenção de desastres, gestão de crises e ações do governo, mas entendo de jornalismo e marketing. E sobre esses dois pontos, a história tende a julgar o que aconteceu esta semana no país.  Jornalismo: Não é a maior tragédia do estado, é uma das maiores tragédias do país, e as demais regiões do Brasil demoraram ou ainda não estão entendendo o tamanho dessa escala. E parte dessa culpa recai sobre a mídia. A nível nacional não houve plantão, a programação seguiu sua transmissão normal e pouca, muito pouca prestação de serviços. O fato foi comunicado apenas de maneira jornalística. Em tragédias, o jornalismo deixa de ser veículo de comunicação e passa a ser serviço público. Para não ficarmos apenas pensando em TV e rádio: eu assino uma newsletter diária de notícias que chega para milhões de pessoas em todo o país. No dia 2 de maio, a newsletter utilizou três linhas para comunicar sobre o Rio Grande do Sul. Três linhas. O jornalismo não é mais mecânico, e os termos, as