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Não confunda plano de ação com estratégia

Construir um plano de ação para deixar claro o que deve ser feito dentro da empresa é, sim, parte importante do processo de execução, mas pode ser a única.




A cena é comum em reuniões de equipe: os gráficos são analisados, discutidos e uma decisão é tomada. Aí ele surge, o famoso plano de ação para “colocar no papel” as definições e como atingir o objetivo acordado. O mais famoso deles é o chamado 5W2H e suas inúmeras adaptações.

Até aí tudo bem - ou nem tanto -, a questão é viver apenas destes planos sem dar atenção a uma estratégia maior que deve estar por trás deles. Planos de ação são realmente importantes e úteis, porém, apenas para a etapa de execução. O erro se dá quando queremos encaixá-los em todas as etapas de um processo de desenvolvimento empresarial.

Um plano de ação representa, de maneira simples, a descrição de um plano para executar uma ação. E por ação entendemos o modo como será executado determinado objetivo.

Uma ação isolada dificilmente se mostra boa coisa para a empresa. Uma porque, sendo isolada, exige novos esforços e atividades que não se encaixam com as práticas cotidianas da empresa. E segundo, porque não segue a estratégia da empresa. Vamos a um exemplo simples: uma empresa que vende calçados tem como estratégia de vendas, prezar pelo bom atendimento aos clientes. No entanto, durante um mês de vendas baixas, o gerente reúne a equipe e pede soluções para melhorar os números do mês. Uma sugestão foi intensificar a mídia aquele mês para trazer mais clientes a loja. A ideia foi aceita por todos, se transformou em plano de ação e foi posta em execução. Nos dias decorrentes daquele mês, a loja encheu de clientes. Podemos dizer até mesmo que os objetivos foram atingidos, no entanto, o atendimento acabou se perdendo um pouco. Pois, uma vez estando com a loja cheia, os vendedores não conseguiram dar aquela atenção especial costumeira.

A ação ficou isolada, serviu para atingir a meta a curto prazo e todos ficaram satisfeitos. Porém, vamos pensar o longo prazo. Como fica o pensamento da equipe diante da estratégia de um bom atendimento? Caso a situação venha a ocorrer novamente, vamos adotar a mesma ação? E se ela se tornar recorrente?



Agora imaginemos essa mesmo cenário, com uma pequena alteração. Antes de pedir sugestões para a equipe, o gerente acrescenta a seguinte frase: “vamos lembrar que a nossa estratégia está voltada em bem atender nossos clientes. Então precisamos definir ações que nos ajudem a reverter esta situação, porém, sem deixar a qualidade do nosso atendimento cair”. A mesma ideia seria aprovada nessas circunstâncias?

Perceba então que o problema não está em usar-se de planos de ação, mas sim de valer-se deles sem um alinhamento prévio com a estratégia e também o planejamento da empresa. Entender o caminho que a mesma está tomando, as frentes estratégicas que vem sendo trabalhadas e acrescentar a isso ações alinhadas ao que já vem sendo construído, só tendem a colaborar ainda mais com a companhia como um todo e engrandecer a marca diante de seus propósitos.

Infelizmente ainda acabamos fazendo o caminho contrário, olhando primeiro para as ações, e depois de definidas, encaixá-las – se possível - em alguma estratégia já existente. A sugestão então é dar um passo para trás. Olhar a visão estratégica, absorver os valores institucionais e os caminhos norteadores. Compreendendo esse cenário, provavelmente a quantidade de planos de ação reduzirá consideravelmente, assim como a extinção das ações isoladas, que comprometem a marca e tiram o foco da estratégia da empresa.



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