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Marketing fora do escritório

 O uso de dados vêm transformando a área de marketing de maneira acelerada. Mas o olhar apurado para o consumidor e o feeling do marketeiro ainda seguem essenciais. 



Marketing nunca foi uma ciência exata. E por mais que os dados venham para tornar a área  cada vez mais assertiva, são tantas as possibilidades para um produto, serviço ou mensagem chegar ao consumidor final, que mesmo muito bem construído, sempre há um risco envolvido. Acrescente a isso um mercado que está em constante mudança e temos um cenário, que, mesmo rumando para um viés de números, ainda carece da percepção humana e do famoso feeling. E quem aqui fala é um entusiasta de dados, e que acompanha com empolgação as possibilidades dessa conexão.

Em verdade, vejo o marketing como o caminho do meio entre a antropologia e a ciência de dados, onde a essência de um bom serviço está no bom uso desses dois fatores. E ignorar ou desprezar um deles não parece ser uma boa ideia.

Dados já são o presente do marketing. Toda e qualquer ação hoje que não passa por uma mínima análise, estudo ou pesquisa corre um risco desnecessário de fracassar. Eles são úteis em todas as fases da vida de um produto, desde a sua concepção até o momento definitivo da sua substituição ou encerramento. Os analistas de marketing de hoje são, acima de tudo, analistas de dados, e ter esse interesse constante sobre o tema é essencial para a profissão.


Como dizia o poeta, nem tudo são dados…

Por outro lado, relações humanas e sociais são subjetivas, e por mais que um dado seja extremamente bem apurado, ele não é garantia de conversão. Partindo, inclusive, da forma como este dado é captado. Pesquisas e questionários pela internet, por exemplo, que não contam como uma interação humana, ficam reféns da interpretação do respondente. Ou seja, uma pergunta mal formulada, pode entregar respostas controversas e influenciar de forma equivocada algumas tomadas de decisões. Os próprios hábitos de compras e rastro digital, se não bem traduzidos, podem não ser efetivos. 

É aí que começa a surgir o lado empírico do marketing. Além do acesso a dados, estar conectado à realidade do cliente, entender de forma orgânica seus gostos, preferências e estilo de vida é essencial. Costumo repetir muito essa frase: “marketing se faz fora do escritório”, e ela é baseada em uma busca fiel sobre quem é esse cliente, como ele age, quais palavras usa. São questões intrínsecas e detalhes que dificilmente seriam percebidos em uma pesquisa e que não deixam de ser uma outra forma de gerar dados. Passar um dia em um ponto de venda conversando com o consumidor e fazendo anotações, tem o mesmo valor que um dia analisando relatórios e pesquisas. Seja para captar novas percepções ou simplesmente para confirmar os dados já de pertencimento da empresa e dar mais segurança à tomada de decisões.


Questione os dados

Este inclusive, é outro ponto que merece destaque. Sempre questionar dados e buscar respostas diferentes das óbvias. Perceba que questionar não significa não acreditar nele, mas sim maturá-lo até o esgotamento. Esse exercício, novamente, te deixa mais seguro para a tomada de decisão e também pode trazer novos insights que uma leitura mais superficial não tenha revelado.

O último ponto deste olhar mais antropológico é a criatividade. Trazer um pouco de informação qualitativa expande a discussão e permite um pensar crítico que pode levar a caminhos antes pouco percebidos ou desconsiderados. Como a Cacau Show e o Boticário que começaram a oferecer kits prontos nas lojas pois perceberam que mais do que perfumes e chocolates, as pessoas iam às suas lojas comprar presentes. A mentalidade de uma startup, inclusive, parte desse ponto de vista, de primeiro encontrar o problema, para depois partir para uma solução. 


Feito é melhor que não feito

O texto perpassou por temas que conectam muito com um marketing estratégico e analítico. Mas um ponto que não poderia encerrar sem citá-lo é o timing. Ou seja, de nada vale todo esse estudo e discussão sem a ação, e principalmente o timing. Aproveitar um cenário favorável para o lançamento de alguma ação pode definir o sucesso ou desastre dela. 

Mas pontuo que não vejo estas questões como algo destoante. Muito pelo contrário, quanto mais um setor de marketing tem dados na rotina e possui um planejamento estratégico bem definido e claro, mais preparado vai estar para aproveitar os momentos de ação.  

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