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Porque você deveria assistir aberturas de séries?

 Acessar a Netflix, escolher uma série, dar play, apertar o botão de pular abertura, relaxar e começar a assistir. Essa é uma lógica seguida pela maioria das pessoas e que você que está lendo esse texto, provavelmente está incluso. Minha missão aqui é convencê-lo a não pular mais a introdução de séries e filmes. Aceita o desafio?



Principalmente se tratando de filmes, a abertura, ou os créditos iniciais, fazem parte da história e dão pistas de como será o tom de todo o filme. Uma das mais representativas talvez seja a abertura de Seven - Os sete crimes capitais, que utiliza de um estilo próprio e construído para o filme, indicando o tom de suspense e inserindo informações dos próprios criminosos que vamos conhecer durante o longa.



Outro exemplo é Alien - o oitavo passageiro, que constrói o título do filme (e o clima de suspense) de uma forma tensa e bela ao mesmo tempo.



Porém, mesmo a introdução não contando história alguma, ela deve ser apreciada pelo fator ambiental que representa. A principal função de uma abertura é tirar o espectador do seu mundo e inseri-lo no mundo da história que vai começar a acompanhar. A mágica de ir ao cinema, sentar na poltrona, apagar as luzes e o filme começar a rodar também fazem parte desse ritual. E é por isso que quando falamos de séries que assistimos em casa e propensos a interrupções, a introdução se mostra ainda mais importante.


Atualmente tenho assistido a série The Morning Show, da Apple TV+, que conta com uma abertura de dois minutos. É uma música, quase que completa, cantada com uma animação ao fundo. A série é muito densa e pesada, e para “encarar” cada um de seus episódios, essa música, é quase que essencial. Apesar de ser sempre a mesma, apenas os primeiros acordes já dão o tom do que é aquele mundo. No quarto ou quinto verso você relembra os personagens e o desenrolar da história, e quando o refrão inicia, vem também toda a emoção que ela já te proporcionou. Quando a música acaba e o episódio, em si, começa, você já está ambientado e preparado para a sequência da história.



Se nenhuma dessas emoções vem à tona nesse momento, utilize a abertura para se acomodar no sofá, pegar uma coberta, desligar as luzes, se preparar para o momento de entretenimento que você mesmo se permitiu.



Além da introdução

Que aliás, é justamente este o ponto que me fez iniciar esse texto e questionar este costume. Desde quando normalizamos que até mesmo o nosso entretenimento precisa ser acelerado? Se algo produzido para entreter causa ações de ansiedade, não seria este um bom sinal de segurarmos o freio ainda mais?

As séries, os streamings, as redes sociais e um mundo onde o conteúdo é infinito vem causando ainda mais a sensação de F.O.M.O (medo de perder algo), e que a solução para isso é acelerar até mesmo a diversão.

Seria aceitável se essa sensação se limitasse apenas em casos de entretenimento, mas tenho a impressão de que esse modo acelerado de consumo já está absorvido em toda a nossa rotina. Lembrou do áudio acelerado do WhatsApp? Pois é, mas me parece que é um pouco mais profundo.


Não à toa o mindfullness e a meditação vem sendo a nova onda entre os executivos. Porém, até mesmo essas alternativas vão se transformando em ferramentas de produtividade em mundo cada vez mais acelerado. 


Isso está representado em subir de elevador dois andares para evitar as escadas, em fazer uma viagem a um destino só porque será uma bela paisagem para fotos, em chegar na reunião cinco minutos atrasados porque uma agenda ficou encaixada na outra e, afinal, são apenas cinco minutos. Em chamar um Uber para evitar caminhar 10 minutos, em ficar ansioso porque um WhatsApp ou e-mail não é respondido em menos de uma hora, em escolher um livro para ler pela quantidade de páginas ou um filme pela duração.

Não vejo nenhum problema quando qualquer uma dessas atitudes acontecem ocasionalmente, mas vejo com muita preocupação quando viram rotina, principalmente imaginando as consequências de tudo isso.

Não à toa o mindfullness e a meditação vem sendo a nova onda entre os executivos. Porém, até mesmo essas alternativas vão se transformando em ferramentas de produtividade em mundo cada vez mais acelerado. Com isso, a meditação não é buscada como uma forma de se desligar e acessar o tempo presente, mas para oferecer a possibilidade de aumentar o foco no trabalho por ainda mais tempo.

Acho complicado escaparmos dessa rotina caótica onde nos colocamos. Mas acredito que dá sim para desacelerar. Alguns pequenos movimentos podem ser feitos, como o próprio mindfulness ou não pular as aberturas de filmes e séries. Ao menos o tempo de lazer não precisa ser acelerado.



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