Assim como existia um mundo antes e depois da internet, a ascensão do blockchain permitirá um novo capítulo da nossa atual era digital, e as NFTs e demais tokens digitais são apenas o início dessa revolução.
No dia 25 de novembro, o dicionário inglês Collins elegeu NFT (mesmo sendo uma sigla), a palavra do ano, definindo-a como “uma colisão única de arte, tecnologia e comércio”. Além disso, o Collins destacou ainda que o uso do termo decolou mais de 11.000% no ano passado, o que o tornou "onipresente".
NFT é uma sigla para non-fungible tokens, ou na tradução, tokens não-fungíveis, e une dois conceitos importantes para sua compressão: o primeiro conceito é de algo não fungível, ou seja, que possui características únicas e não pode ser copiado ou trocado de igual maneira por outro ativo. O dinheiro, por exemplo, é fungível, uma vez que pode se trocar facilmente uma nota de um dólar por outra. Algo não fungível é, por exemplo, uma obra de arte ou uma música, que possui um valor único e não pode ser trocada por algo da mesma espécie ou qualidade.
O segundo conceito é sobre token, que é a representação digital de um ativo real. No conceito das NFTs, seria uma certificação digital, registrada em blockchain, que te dá garantia de posse de qualquer bem adquirido. Em resumo, NFTs são certificações digitais que te garantem posse sobre ítens únicos e colecionáveis. E esse conceito, que nasceu em 2012 e vem ganhando grande proporção desde o ano passado, tem enorme potencial para mudar a forma como pessoas, artistas, celebridades, empresas e marcas se relacionam, e criar uma economia paralela extremamente grande e de infinitas oportunidades.
Trazendo as NFTs para a realidade
As NFTs começaram a chamar a atenção quando Jack Dorsey, fundador do Twitter, transformou seu primeiro tweet em uma NFT e o vendeu por US$ 2,9 milhões. O que caracteriza toda essa valorização é a exclusividade e a crença de valorização futura, ou simplesmente um desejo por colecionar. Mesmo fator que fez um meme de um gatinho ser comprado por US$ 500 mil. Porém, esta é apenas uma pequena parte do seu potencial conceito, de quem lê o NFT como um investimento para o futuro.
As marcas já enxergam NFTs como formas de aproveitar uma atual base de clientes, fidelizá-los e claro, ter novos rendimentos a partir disso. Um dos cases mais conhecido é o da NBA, que lançou no final do ano passado a Top Shot, sua plataforma de NFTs. Lá o fã de basquete pode comprar e ser dono, desde cards colecionáveis dos jogadores, até os principais lances da partida, que parte de um custo de US$ 4 até US$ 20 mil. Todos possuem as características de serem únicos e limitados. Estima-se que apenas na Top Shot tenham-se movimentado até o momento cerca de US$ 780 milhões em vendas.
O sucesso foi tão grande e em tão pouco tempo que a MLS, de beisebol, já possui sua própria plataforma e a NF, de futebol americano, também já comunicou o lançamento da sua.
Mas as possibilidades não ficam apenas na compra e venda de itens colecionáveis. Equipes esportivas vem utilizando cada vez mais o conceito de fan token, que nada mais é do que um token digital limitado que oferece vantagens diversas para aqueles que comprarem. O caso mais antigo é do PSG, que atualmente já tem vendido 3 milhões de tokens e recentemente passou por uma grande valorização de preço com a chegada de Lionel Messi para o clube. Messi, que inclusive, aceitou receber parte do seu salário em fan tokens do PSG. Atualmente, entre as vantagens que vêm sendo oferecidas para seus compradores estão a possibilidade de escolher o uniforme do próximo jogo, a música que vai tocar no estádio, receber chamadas de vídeo dos jogadores ou até mesmo assistir um jogo do banco de reservas. No Brasil, Atlético Mineiro, São Paulo, Corinthians e Flamengo são alguns dos times que já lançaram seus fan tokens, e muitos outros devem vir na sequência. Os tokens também podem ser vistos como uma nova versão das carteiras de sócios dos clubes mas não se limitam a isso. O Cruzeiro, o Vasco da Gama e o Coritiba, foram um pouco mais além, oferecendo tokens dos próprios jogadores da base, transformando o torcedor, em também investidor do clube, apostando em seus próprios jogadores.
Em um mundo cada vez mais digital e social os NFTs só justificam ainda mais os conceitos de branding e audiência própria que o novo marketing tanto aponta.
As oportunidades que se desenham diante dessa nova possibilidade são inúmeras. Mas perceba que o NFT em si é apenas uma ferramenta impulsionada. Para todas as futuras possíveis aplicações dessa tecnologia, outro ativo se fez essencial para o sucesso das ações: a marca.
Tanto para clubes esportivos, artistas ou empresas, o fator que justifica alguém pagar algo sobre uma arte digital é o valor que isso tem para ele. Isto pode ser uma forma de pequenos artistas e empresas angariar fundos, fidelizar ainda mais seu público e ampliar rendimentos.
Junto ao lançamento do seu último álbum a banda americana Kings of Leon faturou US$ 2 milhões oferecendo 28 NFTs exclusivas ao seu público. O TikTok também já está vendendo momentos de sua plataforma, no mesmo estilo da NBA e usando de influenciadores como parceiros. Os influenciadores, inclusive, podem se beneficiar e muito com essa tecnologia.
Em um mundo cada vez mais digital e social os NFTs só justificam ainda mais os conceitos de branding e audiência própria que o novo marketing tanto aponta.
Minha opinião? Os NFTs serão mainstream em menos tempo do que imaginamos. Muito porque eles conversam com práticas do mercado que já são comprovadas e que tem total adesão com o consumidor, como por exemplo a ideia de escassez e exclusividade. Inserir o consumidor dentro de um grupo restrito de pessoas que possuem vantagens e benefícios únicos e imutáveis é de um extremo valor.
Perceba que já fazemos isso hoje com artigos fungíveis, como ser fiel a uma marca. Donos de Iphone e de uma moto Harley Davidson tem um senso de pertencimento a um clube que, mesmo que não exista, trás um sentimento de fazer parte de algo. Agora este pertencimento pode se tornar real. Imagine eventos presenciais sem a venda de ingressos, apenas para quem possui NFTs, ou vantagens como se antecipar a tendências ou ter preferência em compras. O valor de um NFT vai muito de como a marca pode aproveitá-lo em seu benefício, inclusive para a sua própria valorização.
Quanto mais uma marca é reconhecida, valorizada e apresenta resultados, mais seus NFTs e colecionáveis ganham valor de mercado. E claro, o contrário também é real. E nesse cenário, o cuidado com a marca e sua estratégia de branding também ganha novas proporções. Não é difícil imaginar que novas áreas de marketing das empresas criem cargos como coordenador de NFTs, gerente de fan tokens e um possível CTO (chief token Officer?).
Também não é difícil imaginar que, muito além de itens colecionáveis, cada um de nós tenhamos nossos próprios NFTs, seja para registrar momentos da nossa vida, seja para lazer ou diversão ou para utilizá-los como forma de ativos. Seja qual for o formato, dificilmente estaremos fora dessa nova onda.
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