Série americana da Apple TV+ traz uma visão otimista sobre a sociedade e serve de perfeita alusão ao mundo dos negócios
Não deixe se enganar pela trama básica de um treinador de futebol americano que viaja até a Inglaterra para assumir um time de futebol da Premier League sem conhecer nada do novo esporte. Ela é apenas um plano de fundo para uma história de relações humanas e trás questionamentos sobre o quão estamos acostumados a um único modo de ver a vida.
Na série Jason Sudeikis vive o personagem título que tem como características um otimismo, carisma e bondade extremos. Ao chegar em seu novo trabalho se depara com um clima hostil entre os jogadores e grande segregação entre os astros do time, os demais jogadores, a equipe técnica e a direção. O curioso aqui é que diante deste cenário, a figura que mais nos causa estranheza é a de Lasso, e não do ambiente e das pessoas que encontra. Este é o primeiro sinal de que algo não está certo.
A série persiste nesse paradigma colocando o treinador cada vez mais em confronto com os costumes e a rotina daquele mundo (o nosso). Construímos uma realidade em que é normal ofender pessoas, trapacear para se dar bem, trair, ser egoísta, mentir, manter preconceitos e ignorar minorias. Cada uma dessas atitudes é vista em cena, e Lasso desvia de todas, sempre mantendo conexão com aquilo que acha correto e acredita.
E a cada atitude “boa” que ele fazia, o alerta do “ninguém faria isso” tocava em mim. Apesar de Ted Lasso estar fazendo simplesmente o óbvio, o simples.
Ao final dos dez primeiros episódios de apenas 30 minutos da primeira temporada, a série produziu algo raríssimo de sentir nos tempos atuais: paz. O clima leve e bondoso que a entrega contradiz com o nosso mundo atual, cada vez mais mergulhado em polaridades e disputas incongruentes. É curioso que nós como humanidade insistimos tanto em seguir pelo caminho do confronto. Às vezes um olhar mais leve sobre o mundo faria bem a todos.
Aqui vão 10 ensinamentos que a série coloca, e que podem (deveriam?) facilmente ser incorporados na rotina corporativa:
Pessoas primeiro: Ted Lasso é um péssimo treinador de futebol. Mas um excelente gestor de equipe. Durante a gestão deu voz e confiança a cada um dos seus liderados e enfrentou as desavenças sem nunca colocar outras prioridades à frente do ser humano com quem trabalhava. Ted não olhava para um time, olhava individualmente para cada um dos seus jogadores.
Valores inegociáveis: Ele também tinha claro aquilo que acreditava e qual caminho seguir. Não é perfil dele ser coach de alta performance, ou um incansável batedor de metas. Ele acreditava em qualidade de vida, confiança e desenvolver pessoas boas. O resultado é consequência, vem em um segundo momento.
Em certa cena, o egocêntrico Jamie Tartt marca dois gols no primeiro tempo da partida em jogadas individuais e sem o envolvimento do time. O segundo gol ele comemora sozinho. No intervalo, Lasso tira ele do time e deixa claro que seus princípios são mais importantes do que a própria vitória.
Respeito e confiança: A primeira atitude que Ted Lasso teve ao chegar no seu novo emprego foi conhecer as pessoas. Do CEO ao roupeiro, todas com a mesma atenção, respeito e disponibilidade. Sempre se colocando em uma posição de aprendiz e com uma intenção genuína de ouvir, estimular e apoiar aqueles que estão ao seu lado.
Crie relações humanas: Um momento chave da série é um “pacto” que o time organiza após um jogador se lesionar. Depois de chegar desconfiado e com zero apoio, este momento representa a virada de chave para a equipe. O interessante aqui é que Lasso soube previamente que o jogador já havia se recuperado, mas manteve mesmo assim todo o ritual. A situação acabou gerando o primeiro momento de integração e conexão do time. Ali eles estavam se conhecendo como pessoas, e não como profissionais.
Liderança humanizada: Ted não esconde suas fraquezas e não tem medo delas. Erra, é vulnerável e tem zero apego material. Adjetivos que até há algum tempo eram inconcebíveis para um cargo de liderança. Porém todas essas características o aproximam da equipe e geram conexão. É curioso notar que Lasso nunca interfere nas situações mais delicadas do vestiário. Seu modo de atuação é baseado no diálogo, de corrigir no particular e elogiar no coletivo. E os seus valores estão sempre lá. Os liderados veem nele a verdade que expressa e por isso confiam e o seguem.
Gestão de grupo: E quando o capitão do time não rende mais o esperado e precisa encarar a reserva? Em um dos melhores momentos da série, o técnico consegue convencer este jogador a ceder a braçadeira e aceitar a sua situação sem nenhuma imposição e sem desmotivá-lo. Novamente, o diálogo e os valores intactos imperam.
Lide bem com as individualidades: Ninguém é unilateral. Todos temos várias camadas, e quando Ted conversa com cada um de seus liderados sabe que também fala com a pessoa por trás do cargo, que carrega consigo toda uma história que o trouxeram até ali. Isso exige um nível de responsabilidade gigantesco, que ele sabe muito bem o peso que tem.
Ignore o ambiente externo: Críticas sempre vão existir, e quanto mais se expõe, mais elas aparecem. Aquelas que não forem positivas e não vierem para contribuir com este crescimento, só devem ser ignoradas. O extra aqui é que a resposta não precisa voltar com a mesma intensidade. Lasso é fiel a seus valores mesmo com aqueles que o ridicularizam. Comprar uma discussão é dar a vitória para o adversário.
Comemore: Sempre! E no caso do Ted Lasso até mesmo as derrotas (risos nervosos). Celebrar os pequenos momentos ajuda na motivação pessoal e na integração e valorização de todos os que contribuíram. Faça delas um hábito rotineiro.
Viva: Talvez o principal ensinamento de toda a série. Às vezes nos perdemos na corrida para a próxima cenoura e esquecemos que enquanto a corrida acontece, a vida também está passando. E Ted Lasso nos questiona se o que move essa corrida está mesmo de acordo com aquilo que acreditamos e queremos.
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