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Reinventar é o novo normal?

Se tem algo que essa pandemia deixou muito claro para as empresas é a enorme necessidade de entender e profissionalizar o negócio. Em um cenário instável, quanto mais conhecimento sobre o produto ou serviço e o público consumidor, melhor é a adaptação. Seja para pequenos ajustes, seja para reinventar todo o negócio.


E como houveram reinvenções durante estes últimos meses. Foi o momento para muitos experimentarem pela primeira vez as compras pela internet, a vídeo-chamada, o streaming, o delivery, o take away. Todas essas opções já existiam. Nada foi criado. O que houve foi uma mudança abrupta e obrigatória no comportamento das pessoas que gerou uma corrida para estes serviços. Os primeiros que perceberam a mudança e se adaptaram, foram os que menos sofreram.

Acontece que a pandemia apenas acelerou um movimento que já era de clara transformação e agilidade. O mundo volátil, incerto, complexo e ambíguo do VUCA foi até ressignificado na sigla BANI (brittle/frágil, anxious/ansioso, non-linear/não linear e incomprehensible/incompreensível). E é bem verdade que o mundo de hoje mais parece a soma das duas siglas.  

Para qualquer corajoso empreendedor que busca abrir seu negócio hoje, a única certeza que terá é de que não vai encontrar um caminho linear a ser seguido, e sem sombra de dúvidas, vai precisar se reinventar muitas vezes. Isso já é parte do jogo, e ter essa consciência e esse capacidade de mudança cada vez mais são grandes diferenciais de mercado.

Na última sexta-feira duas noticias foram anunciadas com potencial de transformação de cadeias de mercado inteiras. Na primeira, a Warner Bros. um dos maiores estúdios de cinema do mundo anunciou que em 2021 lançará suas produções de forma simultânea no cinema e no streaming da HBOMax. A decisão, claro, vem em decorrência da pandemia, mas se bem executada tem potencial de transformar a indústria do cinema atual, que já passa por uma grave crise também em virtude da pandemia. Atualmente, os filmes têm um lapso de 4 a 6 meses de exclusividade no cinema até chegarem em outras plataformas. E esse intervalo de tempo é que entrega receita para produtoras, distribuidoras, redes de cinema e os proprietários das salas.

A segunda notícia vem do meio da publicidade, aonde a Avellar, renomada agência de publicidade do Rio de Janeiro anunciou, por meio do seu fundador, o seu fim. A partir de segunda-feira um novo modelo de agência, que inclusive, vai abrir mão do nome agência, surge como um propósito de questionar a própria propaganda, e dar mais atenção ao entretenimento como forma de visibilidade para as marcas. Outra grande mudança provocada é o fim do bônus de mídia, valor percentual tradicionalmente cobrado por todas as agências, e que há tempo vem sendo visto como uma prática questionável dentro do mercado.

Para qualquer uma dessas mudanças, provavelmente o caminho mais fácil seja a disputa interna, a tentativa de amenizar os riscos ou reverter a situação. Quando algo disruptivo acontece, a ação natural das pessoas é de repulsa e questionamento. O problema é ficar preso a este pensamento. 


Quando algo disruptivo acontece, a ação natural das pessoas é de repulsa e questionamento. O problema é ficar preso a este pensamento. 


E é importante dizer que ambas as ações, apesar se trazerem uma certa surpresa, não são invenções vindas do dia para noite. Publicidade e cinema são dois mercados que claramente estão atrasados frente ao tempo atual e clamam por mudanças estruturais. Uma hora ou outra, elas chegam.

Em comunicado após anunciar o fim da sua agência de publicidade e o início da nova, o fundador Raphael Avellar postou em suas redes sociais o seguinte texto: “O potencial de uma ideia pode ser facilmente medido pela resistência que ela provoca. Seres humanos odeiam mudança e essa é justamente a oportunidade.”

A frase vale para qualquer negócio de qualquer tamanho em qualquer hora. Se a mudança ainda não veio, ou ela vai chegar, ou já chegou e não foi percebida. E nesse mundo VUCA/BANI, quem sai na frente tem uma estrondosa vantagem. Tirar proveito disso é uma enorme chance de dar destaque ao negócio, ganhar visibilidade e explorar novos mercados. A nova regra é não ter regra, a nova forma de fazer negócios é a próxima, e se reinventar sempre que necessário é uma das principais características para se manter no jogo.


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