Não precisa gostar de futebol, não precisa saber a lista de convocados e nem ser fã do Neymar. Tem um assunto bem diferente que pode atrair seus olhares nesse mundial: gestão. Se o futebol não é seu ponto forte, assista a Copa simplesmente para entender sobre pessoas, sobre como geri-las, sobre superação e trabalho em equipe com um dos melhores coachs do mundo: o técnico da Seleção Brasileira: Tite.
A Copa do
Mundo se aproxima e com ela um sentimento que há tempos não cultivava: torcer
pelo Brasil. Há menos de um ano nossa Seleção voltou a trazer alegria, a jogar
bem, a não perder e trazer esperanças reais de título.
Mas como
pode essa mudança ter ocorrido de forma tão rápida? Em 2016 eramos eliminados
da Copa América na fase de grupos e estávamos em sexto lugar nas Eliminatórias,
ou seja, fora do Mundial. Agora, menos de dois anos depois, ingressamos na Copa
do Mundo como seleção favorita ao título, com confiança alta e jogando um dos
melhores futebol da atualidade.
Trazendo
para a mundo empresarial, seria a mesma situação de resgatar uma equipe
descreditada e colocá-la em um patamar de sucesso em um curto prazo de tempo e com
um pequeno detalhe: o contato do gestor ocorreria em períodos de quatro e seis
meses.
O nome por
trás dessa enorme mudança na Seleção é Adenor Bacchi, o Tite. E baseado em seu
trabalho, podemos tirar grandes ensinamentos que são bem-vindos não apenas para
a nossa carreira, como para a nossa vida. Inclusive o primeiro deles, é lembrar
que ele próprio não fez sozinho essa mudança:
1. Dividir o mérito
Tite não hesita
em dizer que não faz nada sozinho. Nem ele, nem ninguém. Muito por isso, ele
exalta demais o trabalho de sua comissão técnica. Tanto que em suas coletivas
de imprensa, o Edu Gaspar, coordenador técnico da Seleção é presença
confirmada. Parece algo simples e óbvio, mas perceba: o cargo de técnico de
futebol é uma função ingrata. No Brasil, um técnico dura em média três meses no
cargo. A coletiva de imprensa é o seu principal momento. Aonde pode defender
seus princípios, justificar suas decisões e obviamente, receber os elogios.
Tite sabe
que não fez tudo sozinho, então leva consigo parte de sua equipe. A coletiva se
torna uma aula. Ele engrandece o trabalho de sua equipe e transforma um momento
tedioso do futebol em espaço para ensinamentos.
2. “A essência é o atleta”
Essa frase é
de Tite, e nas empresas, o atleta é o colaborador. Entendê-lo como essência é
desenvolver o jogo a partir dele, com respeito e compreendendo quem são e o que
fazem. Tite usa o termo “potencializar os atletas”. Ou seja, oferecer ao atleta
condições para que ele execute seu talento da melhor forma. E uma vez
encontrado esse espaço, seguir aperfeiçoando seu potencial a partir de um
esquema de jogo que melhor caracterize suas habilidades. Em outras palavras é
usar a pessoa certa, no lugar certo e fazendo a função certa.
3. Clareza e compreensão
Outra ótima frase
de Tite diz que “o jogador precisa entender o que eu estou dizendo e porque
estou dizendo aquilo”. Parece simples e básico, mas não é. Partimos do conceito
que clareza não se dá na forma como eu digo, mas como a outra pessoa entende, e
quanto mais próximo e ciente da realidade daquele a quem quero transmitir algo,
mais claro isto soará.
No entanto
de nada vale transmitir algo de forma clara, sem que aquilo faça a lógica
necessária. Dizer que o centroavante precisa voltar para marcar para ajudar a
compor a zaga é uma coisa. Dizer que a recomposição de jogo com um ou mais
jogadores faz com que a bola retorne ao ataque com 30% a mais de assertividade
e qualidade é bem diferente.
4. Confiança gera liberdade que gera criatividade
Tite diz que
é a confiança que gera consistência de jogo. Em seu pensamento, um sistema
defensivo consolidado gera confiança ao meio de campo, pois este sabe que tem
uma retaguarda o defendendo. Essa confiança, por sua vez dá liberdade para
criar jogadas e arriscar mais. Sem o risco não há ofensividade, mas com
confiança e armadores empoeirados por um esquema que os defende, o fator de
risco é minimizado. Por fim, o ataque recebe um passe com maior qualidade e com
toda a possibilidade de criação à frente. O caminho para o gol fica facilitado
e o resultado uma consequência.
5. Planejamento e preparação
O treinador
destaca muito o fator de preparação em suas entrevistas. Ao ser questionado em
2016 sobre como se preparar para ser o treinador de uma seleção, Tite simplesmente
disse não saber. No entanto o “não saber” não significa mostrar-se em
despreparo, mas sim, aceitar um desafio, compreender sua grandeza e ir atrás de
uma preparação necessária. E para Tite, esta preparação é diária e cotidiana. O
jogo não começa com o apito do árbitro, ele tem início muito antes, com
análises, discussões, testes, erros, palpites e obviamente muito treinamento.
Mas para
tudo isso funcionar é imprescindível o planejamento.
Quando a CBF
iniciou a escolha da cidade sede da Seleção na Rússia, Tite fez um pedido
simples: dois campos de treino, um próximo do outro e ambos próximos do hotel.
Sua intenção era treinar sistemas de ataque e defesa simultaneamente,
otimizando tempo e garantindo alta produtividade. Isso é planejamento e
preparação. Se antecipar as causas e não simplesmente correr atrás das
consequências.
6. Chefe bom e chefe leal
Em
praticamente todas as suas falas Tite usa a palavra Lealdade. Em certa passagem
ele deu o exemplo do chefe bom e do chefe leal. Que entre essas duas situações,
ele prefere ser leal. E por lealdade o treinador entende ser leal com seus
princípios e conceitos, mas acima de tudo, leal com as pessoas. Para isso ele
apropria-se do termo “falar pela frente”, ser franco e sincero, argumentar e
ter a empatia de que aquele que está à sua frente merece uma resposta justa e
coesa.
Por mais
desagradável e desapontador que seja essa conversa, ela precisa ser feita. E
oferecer um feedback verdadeiro, é uma excelente ferramenta de mostrar respeito
a pessoa.
7. Meritocracia
Para Tite,
meritocracia é ser correto e ter respeito com sua equipe. É justificar suas
decisões com dados embasados e preocupados com o coletivo. Sob esse conceito, o
treinador privilegia o coletivo ao individual. Ou seja, entra para jogar quem
melhor se assemelha ao estilo de jogo proposto a partir da análise do
adversário.
Isso não
coloca ninguém acima de ninguém. O Marcelo é o melhor lateral-esquerdo do
mundo, mas o Filipe Luís faz contenção melhor. Se houver a necessidade do time
recuar e esperar o jogo do adversário, a opção será Filipe Luís. Quer um lugar
na Seleção? Entenda o estilo de jogo do time, observe as alternativas no banco,
as regras, os critérios, as adaptações do técnico e seja o melhor em sua
função.
O caminho
fica claro. Todos sabem o que devem fazer. Nenhuma tartaruga subiu na árvore e
o respeito pelas decisões é mútuo.
8. Conciliar beleza com objetivo final
Tite defende
que futebol é paixão, mas também questiona os avanços do esporte e o que é mais
efetivo dentro de um pensamento de futebol moderno. A Itália campeã de 2006 conseguiu
seu título por meio de um estilo de jogo bem burocrático. Diferente da Espanha
de 2010 que levou a taça com futebol mais solto. Tem alguém certo ou errado?
Gerir uma equipe por meio de pressão, imposição e poder também gera resultados
para uma empresa. Mas não teríamos formas melhores e mais sustentáveis de
chegar ao mesmo objetivo?
9. Humildade
Talvez a sua
marca mais registrada. Recebeu isso na base familiar e nunca abandonou. É
enérgico, fala alto, grita e esbraveja. Mas dificilmente o verá faltar com
educação ou desrespeitar alguém. Aqui volto nas coletivas de imprensa. Perceba
de Tite altera o nível da conversa com suas respostas. Por mais bobas,
provocativas ou ríspidas as perguntas, Tite as trata todas com a mesma atenção
e respeito. Não se esquiva de nenhuma, olha no olho, é sério e profissional.
Em certa
entrevista Tite disse que acompanha os programas esportivos e ouve a opinião
dos analistas. Em outro momento, perguntado como atua junto de sua comissão
técnica ele é claro. Ouve a todos, deixa todos falarem, expressarem suas
opiniões e as aceita. A decisão no final é sua, mas estes pequenos gestos fazem
dessa decisão a forma mais correta e democrática possível.
Por fim,
repito: se a Copa não for um atrativo de seu interesse, ouça as coletivas pós-jogo
do Tite. Afinal, não precisa entender de final para saber que cuidar de pessoas
sempre vai gerar bons resultados.
“Vencer ao custo de ser o mais competente, merecer. E não a qualquer custo!”
Tite
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