Pular para o conteúdo principal

Diga-me como anuncias, e direi como tua empresa é





Não são raros os casos de empresas que comprometem sua marca por ações ocasionais ou tomadas por impulso. Um branding bem executado é um branding bem construído. E quanto mais bem construído e claro, mais difícil cair nas pequenas armadilhas do mercado.



Um dos princípios do marketing 3.0 definido por Kotler é claro e projeta uma relação sustentável entre empresa e consumidor. Muito disso pelo empoeiramento deste, que cada vez tem mais conhecimento sobre o que está comprando e quem está vendendo. Outro fator são as opções de mercado, que vem ocupando todos os nichos de consumo e produzindo produtos e serviços cada vez mais específicos e personalizados.

Este cenário vem levando cada vez mais as empresas a trabalharem seu branding, ao ponto de redefinir seu conceito de marca ou até mesmo seu posicionamento de mercado. O marketing então deixa de ser desenvolvido de dentro da organização para fora, e passa a ser trabalhado em seu caminho inverso, ou seja, observando o mercado, e a partir disso, desenvolvendo suas estratégias.

É logicamente sensato que, antes de oferecer algo, preciso entender e avaliar como se comporta esse mercado onde projeto minha inserção e o perfil do meu consumidor prospectado. Tudo isso, uma vez compreendido, entra em discussão com meus valores de empresa e crenças internas. Se haver correlação, a possibilidade de que o mercado aceitará minha proposta de marca é boa.

A forma como esse conceito é repassado para fora, tradicionalmente se dá por meio de propagandas e da mídia. E transformar esse bonito conceito interno em propaganda externa não é tarefa simples e encontra alguns empecilhos, como estes que cito abaixo:



Desvirtuar a estratégia macro em ações sazonais e/ou esporádicas:

É muito fácil mudar a forma de falar com seu público motivado por situações esporádicas e acabar deixando seu discurso incongruente. O exemplo mais clássico e polêmico foi a ação de marketing da Mercedes Benz ao lançar o Classe A no mercado nacional. A empresa, vendo o crescimento da classe média nos anos 2010 encontrou ali uma oportunidade e buscou oferecer um Mercedes a um preço mais acessível a esse nicho em ascensão por meio de um viral que apresentava o carro ao som de funk. Naquele tempo, ainda um nicho crescente. O vídeo desagradou ao público fiel a marca alemã, que via na ação algo distante ao que a marca historicamente transmitia. 



Conflito de comunicação institucional

Normalmente a estratégia de uma empresa é muito bem desenhada e definida. Indicadores e painéis muito bem acompanhados e uma equipe convicta do que deve fazer para levar a empresa ao resultado final, e consequentemente, o seu próprio. Assim, todos sabem aonde estão e onde querem chegar, porém, muito pouco é discutido sobre o “como” se chegar a este objetivo. E é aí que uma estratégia muito bem desenhada pode se transformar em um “tiro no pé” quando a equipe não ter clareza do posicionamento da empresa, ou este mesmo posicionamento é visto como teoria pelas lideranças. Muitas vezes, se um executivo não se vê maduro para absorver um plano de branding dentro de sua empresa, é melhor nem mesmo executá-lo.



Impulso 

O mundo dos negócios é sempre oscilante. Dificilmente uma empresa pode se vangloriar que não passou por maus momentos ou dificuldades em seu caminho. Nesses momentos, quando o alarme toca, a vontade de abrir mão do projeto macro, mexer em preços, exagerar na propaganda e pressionar a equipe exclusivamente por números é forte. Em situações como essa a primeira avaliação é entender que o que está sendo feito não é o certo, e mudar.

Em um ambiente digital e imediato que vivemos, essas ações surgem efeito ainda mais rápido, e vários são os casos em que se percebe certa incongruência de informações. No exemplo abaixo uma empresa de concursos públicos divulgou este banner no mesmo dia em que foi anunciada a prisão do ex-presidente Lula. Visões políticas a parte, avaliando os riscos que uma propaganda dessas pode trazer, podemos concluir minimamente a falta de profissionalismo de quem está em seu comando. Uma vez que ela trabalha para um público de concursando, faltar com profissionalismo pode ser algo grave.






Acima de tudo, deve-se olhar o horizonte, e nunca a palma da mão. Sustentabilidade é construir relações fortes e duradouras, mesmo que para isso seja necessário abdicar de situações presentes. Para a empresa, um ótimo trabalho de planejamento e estratégia. Para o executivo, um serviço de tolerância e convicção. Sim, ainda hoje ações “vendáveis” trazem retornos rápidos para as empresas. Mas é verdade também que cada vez mais a consciência do consumidor pesa na sua decisão de compra. O empresário que entender isso mais rápido, vai sair na frente.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Metaverso

Como a empresa de Mark Zuckerberg visualiza o nosso futuro No último dia 28 o Facebook comunicou a mudança do nome da empresa, passando de Facebook Company Inc. (proprietária, além do Facebook, do Instagram e WhastApp) para Meta Platforms Inc. Muito foi dito sobre os motivos que levaram a mudança, desde criar uma cortina de fumaça para os escândalos divulgados por Frances Hauges e intitulado Facebook Papers (link: https://www.cnnbrasil.com.br/business/facebook-papers-veja-o-que-os-documentos-vazados-revelam-ate-agora/) até uma clara desassimilação da empresa Facebook com a rede social de mesmo nome, que vem perdendo popularidade a cada dia, especialmente com os mais jovens. Ambos são assuntos que renderiam discussões à parte, mas aqui pretendo focar no conceito de metaverso, que há meses vem sendo difundido massivamente pelo Facebook e que Mark Zuckerberg aposta todas as suas fichas para construir seu novo império. O que é metaverso? Segundo a descrição do site Techtudo , “o metaverso ...

O amor é a flor da pele e eterno!

“Antigamente, se alguém tivesse um segredo que não quisesse partilhar, subiam uma montanha, procuravam uma árvore, abriam um buraco nela e sussurravam o segredo para dentro do buraco. Por fim, cobriam-o de lama e lá deixavam o segredo para sempre” A frase acima é dita por Chow Mo-Wang a seu amigo Ping, no filme Amor à Flor da Pele (2000), do diretor chinês Wong Kar-Wai, em uma das histórias de amor mais bem contadas do cinema, segundo muitos críticos. Kar-Wai consegue em seu filme dedicar ao amor a tradução que talvez mais o represente: a eternidade, ou o popularmente, até que a morte nos separe. Na história, conhecemos sr. Chow e a srta. Li-zhen Chan, os dois se mudam para Hong Kong da década de 60 com seus respectivos cônjuges no mesmo dia, onde ocupam quartos vizinhos de um mesmo edifício. Em comum, além do lugar onde vivem, os dois tem a ausência total dos parceiros, e posteriormente uma descoberta: seus cônjuges estão tendo um caso entre si. A descoberta aproxi...

Divertida Mente (Inside Out) é uma viagem fantástica rumo ao autoconhecimento

O primeiro filme da Pixar, Toy Story, completa 20 anos esse ano. Toy Story foi mais do que o primeiro filme produzido em computação gráfica do cinema, a história de Woody e Buzz Lightyear representou a entrada da Pixar no segmento de animação e uma revolução no modo de fazer desenhos. Em vinte anos foram quinze filmes produzidos. Nenhum deles pode ser considerado um filme ruim, e no mínimo três deles, obras primas. E Inside Out, ou Divertida Mente no título em português, é um deles. A Pixar conseguiu criar um padrão tão alto de qualidade que qualquer filme mediano produzido por eles pode ser considerado um Dreamwor..., digo, um trabalho ruim. O estúdio reúne sete Oscars de melhor animação em nove disputados, sendo que em duas oportunidades disputou na categoria de melhor filme - Up! e Toy Story 3.                 Divertida Mente segue a linha dos filmes citados. É Pixar em sua melhor forma, abusand...