Pular para o conteúdo principal

Vamos falar sobre isso?





Em 2010 fui ao show do Paul McCartney, em Porto Alegre. Fui sabendo que seria a primeira e talvez a última vez que veria um beatle vivo na minha frente. Seria uma experiência única então precisaria aproveitar cada minuto, cada segundo. Pensando nisso, levei minha câmera digital e meu celular, claro. No entanto, quando o show começou, por mais que o estádio inteiro ao meu redor estivesse de câmeras e celulares a postos para filmar aquele momento histórico, optei por registrá-lo apenas com os olhos. Não tenho nenhuma foto e nenhum vídeo daquele show. A lembrança que tenho de Paul está na minha memória. Aproveitei todos os instantes, guardei comigo todas aquelas emoções que vão durar a vida inteira, e quando der vontade de rever qualquer momento, tenho a mordomia de assistir pelo Youtube todos os vídeos lá gravados e por consequência, publicados.
                O motivo da lembrança é este vídeo aí embaixo, a nova campanha lançada pela Vivo esta semana, que questiona se estamos usando o celular de maneira correta. A abordagem da companhia é uma questão que me incomoda muito, que não vejo ser discutida em nenhum lugar, e pior, o que é visto é a exaltação justamente do oposto que a propaganda prega. A própria Vivo, há semanas atrás inundava as mídias de massa com propaganda de amigos e amigas neuróticos falando sobre posts, compartilhamentos, comentários e curtidas intermináveis (veja abaixo).
                Ou seja, ninguém é santo nessa história e nem precisa ser. É tudo novo. Estamos vivendo e aprendendo com a era digital. Quem duvida que o futuro da humanidade seja a comunicação digital e não a pessoal? Faz a conta e pensa: quantas palavras você trocou pessoalmente e quantas mensagens enviou há cinco anos? De lá para cá esses dois fatores não vem se aproximando cada vez mais?
                Por mais que o futuro seja uma incógnita, e é bacana pensarmos sobre ele, acho cedo demais para tal mudança. Por mais cafona que soe, ainda entendo como importante a relação pessoal e a conversa frente a frente. É curioso que depois de milhões de anos de evolução estejamos precisando nos reeducar socialmente. Não tenho dúvidas que você já tenha se deparado com situações embaraçosas onde um grupo de pessoas que se conhecem está em silêncio, vidrado mais nas telas dos smartphones do que em olhares e feições.
                Mais do que afastar um do outro, isso nos mecaniza. Interagir com uma máquina não é a mesma coisa que interagir com pessoas. E talvez esse seja o ponto essencial da história. A tecnologia que surgiu lá quando Graham Bell criou o telefone com o propósito de nos aproximar, parece nos afastar. Claro, é incontestável que as telecomunicações são uma dádiva do mundo moderno, mas é importante compreender que elas são o meio e não final.
                Volta no vídeo da Vivo e para em 1min18s. Olha aquela imagem e pensa um pouco! Melhor, como diz a própria propaganda: Pense, discuta e comente! Mas sem a tal da hastag na frente. Discute frente a frente, olho no olho, cara a cara! Vamos falar sobre isso?


Link: https://www.youtube.com/watch?v=O2eHUI2-AxU



Link: https://www.youtube.com/watch?v=WzNZN10aBGk

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O amor é a flor da pele e eterno!

“Antigamente, se alguém tivesse um segredo que não quisesse partilhar, subiam uma montanha, procuravam uma árvore, abriam um buraco nela e sussurravam o segredo para dentro do buraco. Por fim, cobriam-o de lama e lá deixavam o segredo para sempre” A frase acima é dita por Chow Mo-Wang a seu amigo Ping, no filme Amor à Flor da Pele (2000), do diretor chinês Wong Kar-Wai, em uma das histórias de amor mais bem contadas do cinema, segundo muitos críticos. Kar-Wai consegue em seu filme dedicar ao amor a tradução que talvez mais o represente: a eternidade, ou o popularmente, até que a morte nos separe. Na história, conhecemos sr. Chow e a srta. Li-zhen Chan, os dois se mudam para Hong Kong da década de 60 com seus respectivos cônjuges no mesmo dia, onde ocupam quartos vizinhos de um mesmo edifício. Em comum, além do lugar onde vivem, os dois tem a ausência total dos parceiros, e posteriormente uma descoberta: seus cônjuges estão tendo um caso entre si. A descoberta aproxi

Volver

Falar de Almodóvar nunca é fácil. Uma das características do cineasta espanhol é seu atrevimento e coragem em propor nas telas seus conceitos e ideias. E é de atrevimento e coragem que se faz esse texto, ao tentar transpor em palavras um pouco de um dos filmes que mais aprecio em sua filmografia: Volver. Volver conta a história de Raimunda (Penélope Cruz), mulher casada e com uma filha de 14 anos, que ainda tenta superar a morte de sua mãe, enquanto cuida da tia. A personagem de Cruz, inclusive, é quem carrega o filme por completo e dá alma à trama. Cada cena da atriz renova o filme, que composto por um excelente roteiro, nunca deixa a história se esvair ou perder força. Não à toa, em muitas vezes vemos Penélope enquadrada ao centro da tela, tomando para si toda a sustentação do longa. Traduzindo essa percepção para a personagem Raimunda, é assim que ela também encara a sua vida. Uma vez que, mesmo com um casamento complicado, dificuldades financeiras crescentes e um passado

Sobre jornalismo, marketing e uma das maiores tragédias do país

Eu não entendo de prevenção de desastres, gestão de crises e ações do governo, mas entendo de jornalismo e marketing. E sobre esses dois pontos, a história tende a julgar o que aconteceu esta semana no país.  Jornalismo: Não é a maior tragédia do estado, é uma das maiores tragédias do país, e as demais regiões do Brasil demoraram ou ainda não estão entendendo o tamanho dessa escala. E parte dessa culpa recai sobre a mídia. A nível nacional não houve plantão, a programação seguiu sua transmissão normal e pouca, muito pouca prestação de serviços. O fato foi comunicado apenas de maneira jornalística. Em tragédias, o jornalismo deixa de ser veículo de comunicação e passa a ser serviço público. Para não ficarmos apenas pensando em TV e rádio: eu assino uma newsletter diária de notícias que chega para milhões de pessoas em todo o país. No dia 2 de maio, a newsletter utilizou três linhas para comunicar sobre o Rio Grande do Sul. Três linhas. O jornalismo não é mais mecânico, e os termos, as