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Pátria Amada


Vive-se um novo tempo no país tupiniquim! A partir dos anos 2000 com a retomada econômica brasileira, o país vê erguer-se uma multidão de pessoas que, se antes não tinham voz nem vez, hoje encabeçam o principal fator de crescimento no Brasil! Trata-se da nova classe média brasileira, que vivem um período inédito na história brasileira e impensável há 20 anos!
                Impulsionada por ações do governo de incentivo à economia interna, redução de juros, programas de auxílio e aumento do salário mínimo nacional, esta nova classe, que compreende mais da metade da população brasileira, já começa a mostrar sua força e seu poder. O comércio entrou em êxtase, juros zero, parcelas a pedido do cliente, financiamentos, consórcios, IPI reduzido... Nunca se vendeu tanto. Nunca comprar um carro zero ou dar entrada na casa própria ficou tão fácil. Se o dinheiro do mês não dá, o descontinho do vendedor, mais o prazo espichado, mais um financiamento com juro baixo e aquele dinheiro guardado na poupança resolvem! Para tudo se dá um jeito, o negócio é aproveitar o momento!
Com uma situação econômica mundial inédita, onde Estados Unidos e (parte da) Europa pagam os pecados da crise financeira, os países emergentes comemoram o breve protagonismo no cenário global. China, Índia, Rússia e Brasil encabeçam esse time, que vem recebendo elogios e atenções dos principais líderes mundiais. Somos a bola da vez, resta saber até quando!
Que o Brasil tem (ou deveria ter) tudo para ser uma potência global, não se discute. São Paulo há tempos levava sozinho o nome do país mundo afora, hoje, o interior do estado começa a dar as caras, tornando-se solo fértil para grandes empreendedores. Com o plano Real e a estabilidade financeira encontrada, multinacionais encontraram no Brasil o local ideal para abrir filiais em proveito da baratíssima mão de obra e do incentivo fiscal. Elas se espalharam por todo o país, Goiás, Minas Gerais, Bahia, Paraná... E o país vê o desenvolver de sua primeira gigante global. Com a descoberta do pré-sal em 2005, a Petrobrás se tornou a 5ª maior multinacional do mundo, com plano de ser a primeira! Temos voz influente no G20, grupo das 19 maiores economias do mundo mais a União Europeia, e estamos buscando nosso assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas, órgão com poderes de decisão em qualquer país membro da ONU. O resultado de toda essa mudança nos colocou, em 2011, como 6ª maior economia do mundo, ultrapassando o Reino Unido e ficando atrás apenas de EUA, China, Japão, Alemanha e França, esta última, podendo também ser brevemente ultrapassada. Com todas essas mudanças, o quadro não poderia ser melhor, certo? Errado! A “excelente” situação econômica nacional faz contraste a outros dados que, a meu entender, importam muito mais para um crescimento sustentável duradouro!
Em 2003, antes da crise, o Brasil era a 15ª maior economia do mundo, a queda do sistema financeiro mundial foi positiva para os emergentes que tiveram grande crescimento, porém, as nove posições conquistadas mostram-se isoladas e distante de outros gráficos de analise global. Como por exemplo, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que mede os níveis de riqueza, alfabetização, educação, perspectiva de vida, entre outros fatores em um único cálculo. Nesse contexto, em 2004 o Brasil ocupava a 65ª colocação. Sua média era 0,777. Na última análise do IDH, realizada em 2011, o Brasil se apresenta na 80ª colocação, com um índice de 0,718. Divide colocação com países como o Irã e a Colômbia e fica atrás de Venezuela, Líbia (que acaba e sair de uma guerra civil) e Cazaquistão.
A educação é outro ponto polêmico. Os escândalos do Enem, o fracasso das escolas públicas e um ministro da Educação que abandona o posto para disputar a Prefeitura de São Paulo são alguns dos exemplos. O governo aponta que vem investindo pesado em cursos técnicos e na proliferação de faculdades mais acessíveis para todos. Um modo genérico de mostrar que já é possível comprar diplomas sem precisar estudar muito. As universidades particulares abrem a porta para qualquer um, vestibular é mera formalidade - com a exceção de alguns cursos - e a aberração dos cursos profissionalizantes ou a distância é a bola da vez.   Investimentos em educação primária, ensino fundamental e reconhecimento e estimulo a profissão do professor é pouco visto, sinal de uma atenção focada no hoje e desleixada para o futuro.
                A revista americana Newsweek desenvolveu uma pesquisa intitulada, “Os melhores países do mundo”, onde avaliou cem nações nos quesitos Educação, Saúde, Qualidade de Vida, Economia e Envolvimento político. Dentre todos, é na educação que o Brasil apresenta seu pior resultado, sua pontuação é a 78º do mundo, atrás de países como Honduras, Argélia, Quênia e Vietnã.
                Na saúde, o cenário também não anima. Mesmo com um dos melhores sistemas de saúde pública do mundo, a realidade brasileira esta muito distante de algo que possa ser chamado de ideal. Muita demanda, poucos profissionais e a falta de estrutura fazem dos hospitais públicos de todo o país um legítimo corredor da morte. O brasileiro leva até 12 horas em uma fila para marcar consulta, espera meses para realizá-la, tempo este que para muitas situações é longo demais.
                O mesmo alerta se dá a segurança pública, onde policiais e bombeiros tem remuneração pífia, com pouco ou zero incentivo à profissão. No caso dos primeiros, é uma porta aberta para a corrupção, venda de favores em troca do que o estado não consegue pagar. A segunda maior cidade do país há menos de dois anos atrás era praticamente dominada pelo tráfico de drogas. As favelas eram territórios sem lei e foi preciso a ajuda do exército para mudar a situação. A imagem que correu o mundo mostrando traficantes fugindo de um morro para outro, mostrada como triunfo da sociedade sobre o crime, para mim é vergonhosa! Por anos o governo fechou os olhos para as favelas cariocas. Deixou o crime correr solto, apenas quando os homicídios, assaltos e arrastões começaram a ganhar os holofotes mundiais é que houve ação. UPP é interesse governamental, limpar o nome do Rio de Janeiro, o cartão de visita do país. Colocar vigilância 24 horas nas comunidades é colocar a sujeira para debaixo do tapete. O cidadão tem direito a alimentação e moradia de respeito. É dever do governo oferecer a ele o mínimo de instabilidade possível. E não acredito que isso ocorra com essas pessoas morando em barracos de madeira de dois cômodos e comida contada. Algum projeto de incentivo a uma vida melhor vem ocorrendo com essas pessoas?
                Meu intuito aqui não é criticar o que já foi feito, mas ressaltar que a mudança que todos queremos ainda nem começou. O Brasil é um país de muitas caras e a complexidade de gerenciar um país como este é colossal. Desde o início de sua campanha, a Presidenta Dilma Rousseff teve por meta a erradicação da pobreza no país. Se caso fosse ela, não agiria diferente, mesmo sendo uma conduta que vá de revés ao que intenciona o capitalismo moderno. Não vejo lógica para um país avançar economicamente e deixar para trás uma parcela da população a mercê do acaso. Para o bem desta minoria (que não é tão minoria assim), medidas contra a pobreza e miséria tem retorno rápido e consequentemente, rendem votos, o que mais do que qualquer outra coisa, justificam as lágrimas da presidenta em qualquer discurso populista.
                Porém, se você ficar jogando a maça cortada na boca de quem pede, ela nunca vai virar em árvore. Estancar um problema não é solução, é necessidade. O que distingue o Brasil dos demais países é sua cultura, cultura judiada e por muitas vezes massacrada. É orgulho do brasileiro ter a vida sofrida! Contam com olhos marejados às dificuldades que passaram há anos atrás por governos que pouco se importavam com a população. E qualquer imigrante, ao arpar nesta terra, encontrou um chão e uma cultura difíceis de lidar. Fugindo da guerra, deparou-se aqui com as mesmas dificuldades tidas na Europa; incentivo zero, falta total de estrutura e oportunidades, apenas como escravos. Era um povo que poderia construir um país de primeiro mundo, mas que não teve outra solução, a não ser se adaptar ao local. Acabou sendo derrotado pela maioria brasileira/portuguesa, povo do deixa para amanhã, do carnaval, do tão famoso jeitinho brasileiro. Mesmo assim muitos prosperaram, basta ver as principais empresas privadas nacionais. Alguma Silva Ltda. ou Fonseca S/A? O Brasil de agora foi levantado a nomes gringos, de orgulho nacional.
                A nova classe média brasileira é a oportunidade do país mudar de rumo, mas ainda vive uma realidade diferente da que precisa. Com o andar da carruagem, os filhos desta classe vão continuar sem ensino, sem incentivo e tendo como sonho de vida construir a casinha e dar entrada no carro zero. O problema do Brasil é cultural! Como podemos ser o filho que não foge a luta se não nos ensinam a lutar? O tal povo heroico e brado esta mais para sofredor e submisso, que se contenta com pouco enquanto os donos do poder ficam com muito! Ei, espera...não é isso mesmo que o governo quer?



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