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I See You

É por experiências como essa que cada vez mais o mundo do cinema ganha força. Mesmo que por muitas vezes arranhado por “obras” que se dizem cinematográficas e nada mais apresentam que aparatos técnicos e efeitos visuais. Avatar finalmente chegou, e posso dizer com todas as letras que é realmente um prazer assistir a filme como este.

Não conseguiria falar das falhas encontradas, elas pareciam apenas me acordar e mostrar que aquilo não era real. E é uma pena não ser.

No filme, Jake Sully é um ex-fuzileiro, que, paraplégico, é convidado a assumir o lugar de seu falecido irmão gêmeo em uma missão no planeta Pandora, em 2156. Para isso, ele comandará através de sensores neurológicos o corpo artificialmente desenvolvido de um Na’vi, espécie alienígena que vive naquele ambiente venenoso aos terráqueos, tentando usar este avatar para se aproximar da população nativa a fim de convencê-la a deixar suas terras, já que o solo contém grandes quantidades de um metal valiosíssimo. Acolhido pelos Na’vis, Jake passa a absorver a cultura e a religião daquele povo sob a tutela da decidida Neytiri e aos poucos se encanta por aquele mundo – que logo se vê sob a ameaça dos militares terráqueos comandados pelo raivoso coronel Quaritch.

É difícil falar de tudo que esse filme passa em seus 166 minutos de duração, a espera principal é por seus 500 milhões de reais gastos na mais alta tecnologia para resultar em um filme que revolucione o mercado. Não quero entrar nesses aspectos, mas sim na história de Avatar e do porque deste projeto demorar 12 anos para criar vida.

Talvez a maior metáfora que o filme tenha me passado não seja a mesma vista por todos, mas a “simples” ideia de ser ou não ser um Avatar. E isto são créditos demasiados para James Cameron (de Titanic) que conduz impecavelmente toda a história. Os tão falados efeitos cumprem bem seu papel, mas além, realçam o que mais contou para a história do filme, seus detalhes. Os incríveis olhos puros dos Na’vis, suas expressões, as cominações faciais que deslumbram pela sincronia já de cara, e o fato de nos encantarmos por uma mulher de três metros de altura, azul e com rabo e ainda classificá-la como linda, já valeria o ingresso.

Em Avatar entramos no mundo Pandora, e junto com Jake aprendemos tudo sobre esse novo planeta simplesmente incrível, não temos acesso apenas ao visual impecável recheado de cores por todos os lados, mergulhamos na cultura e religião dos Na’vis e automaticamente nos tornamos um deles. Pandora é eternamente melhor que a nossa Terra mas nas palavras de Neytiri, talvez o impasse real do filme ganhe forma: “tentamos dizer a vocês (humanos) que nosso modo de vida também é bom, mas é difícil falar para quem está com copo cheio.”

E ai esta a chave do mergulho em Avatar, de chegarmos ao ponto de nos odiarmos, e sem nenhuma hesitação, declarar guerra a nós mesmos. Após esta cena, nada mais da Terra interessa, a única vontade é descobrir tudo sobre Pandora e esquecer de vez dinheiro, imóveis, status, carreira, seja o que for, tudo é fútil perto da imensidão desse novo mundo. E ai vem a desilusão, acordamos e voltamos ao que éramos, não vendo a hora de dormir outra vez.

Pandora seria a chave e a esperança para a fuga da nossa vida e a entrega total a uma nova realidade que sonhamos, mas não sentimos. Essa sensação me trouxe a tona situações em que já teria passado por esses momentos. Os sonhos podem ser a forma mais clara disto, mas prefiro ir mais além.

Muitas pessoas tem sua forma de “apertar o botão de escape” e fugir um pouco de sua vida, tornar-se um avatar de si mesmo, como exemplos disso temos: encher a cara, acelerar um carro, fazer coisas proibidas, usar drogas ou escrever, pintar, compor, esculpir, etc. No meu caso, talvez seja mesmo entrar em uma sala de cinema, até mesmo assistir um filme em casa, comprar um DVD, a sensação é a mesma, e são obras como esta que nos fazem ter mais certeza disso.

Por 166 minutos me desliguei totalmente do meu mundo, e viajei para Pandora, para perto daquele mundo, que para mim, durante aquele tempo, nada mais seria tão real. Ao final de tudo, não ligo se me iludi e na volta os fatos do meu cotidiano foram voltando a minha cabeça. Enquanto escutava meu mp3 e andava até em casa, sabia que a qualquer hora que quisesse, bastaria apenas ligar um filme em um DVD, que eu mesmo seria um avatar!



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