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Sobre jornalismo, marketing e uma das maiores tragédias do país

Eu não entendo de prevenção de desastres, gestão de crises e ações do governo, mas entendo de jornalismo e marketing. E sobre esses dois pontos, a história tende a julgar o que aconteceu esta semana no país. 



Jornalismo: Não é a maior tragédia do estado, é uma das maiores tragédias do país, e as demais regiões do Brasil demoraram ou ainda não estão entendendo o tamanho dessa escala. E parte dessa culpa recai sobre a mídia. A nível nacional não houve plantão, a programação seguiu sua transmissão normal e pouca, muito pouca prestação de serviços. O fato foi comunicado apenas de maneira jornalística. Em tragédias, o jornalismo deixa de ser veículo de comunicação e passa a ser serviço público. Para não ficarmos apenas pensando em TV e rádio: eu assino uma newsletter diária de notícias que chega para milhões de pessoas em todo o país. No dia 2 de maio, a newsletter utilizou três linhas para comunicar sobre o Rio Grande do Sul. Três linhas. O jornalismo não é mais mecânico, e os termos, as expressões e principalmente, a intenção do fato noticioso precisa ser mais humana. Não vimos isso a nível nacional. Importante: a cobertura estadual vem sendo exemplar, mas infelizmente ela não consegue transpassar a fronteira da região.


Tem um outro ponto aqui: influenciadores e páginas de notícia em redes sociais. Médios e grandes influenciadores precisam entender que hoje eles também desempenham papel de prestadores de serviço. Não é uma obrigação, mas é bom senso. É tudo recente, esses profissionais não têm formação ou não buscam por ela e está tudo bem. Mas em tragédias é preciso mudar a linha editorial das publicações, cuidar o uso de termos, e ser voz para quem precisa. 



Marketing: Uma grande marca comemora 100 anos de existência em 2024 e centrou grande parte desta celebração em um show para 1,5 milhão de pessoas em Copacabana. Até terça-feira desta semana (30/4) esta ação era divulgada como a maior ação de marketing da história do país. Teria tudo para ser. Mas não será. O show “histórico” no Rio de Janeiro será marcado por ter acontecido enquanto o país enfrentava uma de suas maiores tragédias. Ele deveria ser adiado? Não. Mas a tragédia foi ignorada em toda a sua timeline. Um evento não se faz apenas em duas horas de realização. Há uma enorme preparação, nesse caso, provavelmente de anos para que ela aconteça. E como todos que trabalham com eventos, é necessário lidar com imprevistos. A tragédia foi ignorada. E nesse caso só me fica uma pergunta na cabeça: “ela seria ignorada se acontecesse em algum lugar mais próximo do eixo Rio-São Paulo”?


Em um texto publicado pela Meio e Mensagem intitulado: “A aula dada pelo Itaú e por Madonna”, duas frases particularmente me chamaram a atenção: “hoje, para ser diferentes dos demais é preciso sair da bolha” e “precisamos pensar que o modus operandi da comunicação mudou”. Pois é, foi exatamente o que faltou à marca. E isto é triste. Incrivelmente essa trágica coincidência de eventos nos diz com todas as palavras que é preciso sair da bolha e que o modus operandi da comunicação mudou.


Quem me conhece sabe que eu insisto muito em uma frase: marketing é timing. Isso nunca se mostrou tão real como essa semana. A Bits do Brand, da Beatriz Guarezi, usou uma frase necessária nessa semana: “a única tendência possível”. E ela vale tanto para o jornalismo quanto para o marketing. Hoje, para mídias e marcas nacionais e do Rio Grande do Sul não existia outra tendência ou linha editorial possível.


A intenção não é achar culpados, mas são debates que precisam ser feitos. A situação no estado vai continuar por meses, anos provavelmente. Que estes pontos sejam revistos, dá tempo de mudar. São problemas de um país continental, que se resolvidos só nos deixam ainda mais fortalecidos.

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