Atenção fãs de Ted Lasso, temos uma nova série para substituir a abstinência provocada desde seu término. E melhor, uma série documental que conta uma história real.
Eu costumo brincar que Ted Lasso foi uma das melhores séries de fantasia que assisti recentemente. Digo fantasia porque, apesar de ser uma ficção baseada no mundo real, as motivações, desejos e reações dos personagens são tão nobres e boas, que causa a impressão que sentimentos como aqueles não têm mais espaço no nosso mundo.
E provavelmente, é por isso que ela mexeu tanto com as pessoas. Parece que veio para nos lembrar que a vida pode ser mais leve e as relações mais saudáveis.
Mas a série teve sua última temporada no ano passado, ela não foi tão boa quanto as duas primeiras, e desde então, segue deixando saudades.
Um ano antes, em 2022, outra série sobre futebol, Welcome to Wrexham, estreou na FX e contou a história da aquisição do time de futebol galês Wrexham, pelos astros de Hollywood Ryan Reynolds e Rob McElhenney. O enredo é fantástico, e eu falei sobre ela neste texto, destacando o lado business do negócio.
No final do ano passado estreou a segunda temporada, a qual só comecei a assistir recentemente, e algo mudou no tom da narrativa. Ao invés de simplesmente dar sequência a história que encerrou na primeira, a série, apesar de não perder seu humor característico, apresentou um tom mais intimista, optou por mergulhar na história dos jogadores, dos torcedores, das transformações que o time causou na cidade e até mesmo dos rivais. E isto foi impactante.
Impactante porque essa temporada (segura o spoiler) conta o acesso do time de uma divisão amadora do futebol inglês, a 4ª divisão do campeonato profissional. Ao menos era isso que todos esperavam assistir. Porém, já em um dos primeiros episódios, mergulhamos na vida particular do artilheiro do time, descobrimos que seu filho tem autismo, e da dificuldade de transmitir afeto, uma característica do espectro. Também somos apresentados a uma torcedora do Wrexham que também tem o transtorno, que ganhou um cargo no clube que trata de acessibilidade e das iniciativas para tornar o estádio mais acessível. Como uma “zona segura” onde estas pessoas podem assistir aos jogos de maneira mais isolada e confortável. Esse é um exemplo da tônica dos episódios. O protagonismo da série não é para o clube, mas para os personagens e os impactos na comunidade.
Acho que aqui já dá para entender a conexão com Ted Lasso. No final das contas, apesar da conquista do campeonato ser o fio condutor da história, talvez seja o que menos importe. O clube é o que liga todas essas histórias, e faz com que elas aconteçam. Afinal, as histórias não existiriam sem o clube, mas teria sentido o clube existir sem as histórias?
A transição de Wrexham para a nossa realidade se torna então óbvia. O cantor uruguaio Jorge Drexler, repete várias vezes no refrão de uma de suas músicas; “amar la trama más que el desenlace”, ou seja, “amar a trama, o caminho, mais que o desfecho”.
É claro que durante a vida temos objetivos a serem buscados. Isso é essencial e faz parte da nossa jornada, nos motiva. Mas a linha é tênue entre ter esta intenção como motivo a ser perseguido e tornar-se refém dele. O caminho até lá precisa fazer sentido. Ou deveria.
Digo isso porque não caminhamos sozinho. Tem milhões de pessoas caminhando em suas direções que em algum momento vão cruzar nosso caminho, e a realidade mostra que muitas vezes esse cruzamento causa estresse. Seja durante uma simples preferência no trânsito, um atendimento durante uma compra ou mais duradouras, como um colega na faculdade ou um novo vizinho.
Ted Lasso ensinou a virtude da bondade, que em seus primeiros episódios soava tão estranha para um público avesso a esta realidade, que parecia caricata e irritante. Como assim cumprimentar a todos na rua e não se irritar com reclamações?
Wrexham, da sua maneira, parece dar um passo adiante. É claro que a série trata de um recorte, mas ainda assim, eles entenderam o que é mais importante ser mostrado. O gol no final do campeonato não tem graça se comemorado sozinho. Assim como um campeonato inteiro não faz sentido sem as pessoas para aplaudir e comemorar. E por fim, não teria sentido comemorar sem outras pessoas para te parabenizar e vá-lá, até mesmo ser provocado.
Ou então, trazendo para o mundo dos negócios, um objetivo conquistado não tem graça se comemorado sozinho, uma estratégia planejada por meses só tem graça se reconhecida, assim como não haveria necessidade de estratégias, sem concorrência.
Sem pessoas, tudo acaba ficando sem graça. Então por que não fazer desse convívio mais harmônico e real.
A terceira temporada de Welcome to Wrexham estreou dia 18 de abril nos EUA. E em breve deve chegar ao Brasil. Que as lições de Ted Lasso sigam reverberando. O mundo precisa delas.
Believe!
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