O que O Irlandês e a toda a filmografia de Martin Scorsese têm a ensinar para os empreendedores de hoje.
Martin Scorsese é um dos maiores diretores da história do cinema. O maior, entre os que ainda estão entre nós. Junto com Spielberg, Coppola, de Palma e Lucas reinventou o cinema nos anos 60 e 70 depois da crise dos estúdios dos anos 50. E desde lá Scorsese nunca deixou de produzir em alto nível.
Um ou outro filme podem ter passado despercebidos, mas dificilmente algum deles pode ser considerado ruim. Um dos motivos desse alto nível de produção pode ser respondido pelo seu estilo de direção. Scorsese tem um jeito único e inegável em seus filmes. O modo como ele faz cinema já é famoso e cria uma atmosfera única para seus filmes. Mas o mais incrível é que mesmo não abrindo mão de seu estilo, ele nunca deixou de inovar e evoluir sua técnica.
Scorsese chegou ao ápice muito rápido. Taxi Driver, de 1976 e apenas seu quinto filme dirigido, é presença constante na lista de melhores filmes da história. Touro Indomável, outro clássico gigantesco apareceu apenas 4 anos depois.
De Taxi Driver até hoje são quarenta e três anos. E o nível Scorsese se manteve intacto desde então. Mas como buscar essa superação sendo que sua obra prima ficou no passado? A resposta foi mergulhar em outros cenários, descobrir novos gêneros, novas técnicas e novas formas de fazer cinema. Em 1990 ele lançou Os Bons Companheiros, filme que disputa com O Poderoso Chefão o título de melhor filme de máfia da história. Cinco anos depois a estreia de Cassino o consagrou como o principal nome do gênero gangster.
Scorsese também é respeitado por seus documentários musicais. Ao longo da carreira já esteve à frente de filmes sobre Bob Dylan, Rolling Stones e George Harrison. Entre os anos de 2010 e 2011 estreou dois documentários, dois filmes e uma série de tv, abrindo ainda mais seu espaço de experimentações. Um desses filmes foi A Invenção de Hugo Cabret, onde até hoje é considerado o que melhor utilizou da técnica do 3D no cinema. Em 2013, com então 72 anos lança o frenético e alucinante O Lobo de Wall Street que parece ter saído da cabeça de um jovem de 18 anos.
Enfim chega 2019 e Scorsese nos entrega O Irlandês, se aventurando pela primeira vez nas plataformas de streaming com um filme de três horas e meia e já considerado por muitos como sua nova obra prima. O Irlandês traz Scorsese de volta ao gênero de gangster e reúne três gigantes do cinema: Robert de Niro, Al Pacino e Joe Pesci. Além da assistirmos novamente a um cinema da mais alta qualidade, o filme também revela um outro segredo do diretor para manter-se sempre em alto nível: a maturidade.
É nítido nas cenas, nos diálogos, no tempo de projeção e no olhar da câmera a visão segura e crua do diretor. E essa se mostra a essência de O Irlandês, que nada mais é do que uma análise sobre a vida e por que não uma autorreflexão sobre o momento que o diretor e seu trio de atores vivem.
No especial “Conversando sobre O Irlandês” produzido pela Netflix acompanhamos uma conversa de 20 minutos entre Scorsese, De Niro, Pacino e Pesci. Em certo momento o diretor é questionado por Pesci se ele acredita que melhorou seu trabalho ao longo dos anos. Ao que responde:
“Acho que comecei a ter noção de que já fiz muitas coisas, e tinha certa energia e certo jeito de pensar, editar, criar, montar sequencias e tal. [...] E eu consegui. A questão é que, quando preciso colocar uma narrativa em um filme, vejo que não sei como. Você aprende tudo de novo, em cada filme. Você entra em uma batalha, lutando contra si mesmo. [...]Todo filme que você faz é um novo aprendizado”
Quando imaginamos um dos diretores mais consagrados da história, com seus mais de setenta anos e produzindo uma média de um a dois filmes por ano em toda a carreira, imaginamos logicamente que tudo transcorresse de forma automática, lógica e até certo ponto, fácil. Afinal, por que raios, um senhor de quase oitenta anos de idade que já tem o respeito, o dinheiro e a consideração desejada por todos continuaria encarando projetos que como ele próprio diz, não sabe como fazer?
E a resposta também é a mais simples possível. Além de ter um apuro técnico absurdo, Scorsese é apaixonado e ama o que faz. Ele ama o cinema. Ele é presidente da Film Foundation, uma organização sem fins lucrativos que trabalha na restauração e recuperação de filmes mudos. O cinema é a vida dele. E é justamente esse amor que faz ele continuar, crescer, evoluir e não parar. A sua paixão o levou a excelência.
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