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8 estratégias de marketing que fariam da Atlântida uma marca mais competitiva


Para os mais novos talvez não faça muito sentido, mas quem nasceu nos anos 90 sabe o quanto o rádio fez parte da adolescência. Aqui no Rio Grande do Sul a Atlântida era uma das rádios que tinham mais afeição com este público. Seja pelas madrugadas ouvindo o Pijama Show ou o próprio Planeta Atlântida, que era o festival dos sonhos de todo mundo. Hoje a rádio não tem mais a força que tinha. Muito pelas mudanças que a tecnologia ocasionou aos meios de comunicação de uma forma em geral, mas também pela falta de percepção quanto as transformações que o mercado promove.
A ideia aqui não é criticar o atual modelo que a rádio se baseia e muito menos apontar falhas. Trata-se de observações lógicas, que provavelmente os próprios gestores tenham conhecimento, mas que por um motivo ou outro, não executaram. E claro, pelo carinho que tenho a marca e por não gostar de vê-la se esvaindo com o passar dos anos.





1. Posicionamento definido

Por mais que a rádio divulgue ser um veículo de entretenimento, ela não é. Na maior parte de sua programação ainda impera música e o entretenimento em si, se dá por conta de dois programas específicos. Por mais que música também seja entretenimento, essa “indecisão” acaba não beneficiando nenhum dos casos e consequentemente os enfraquecendo. Um dos motivos para isso é a falta de definição de seu público-alvo. Essa é uma dificuldade que várias empresas de grande porte vêm enfrentando, ao tentar se comunicar com todos os públicos ao mesmo tempo. Por mais que os canais da empresa permitam esse contato, não ter um público-alvo definido, ou uma definição muito vaga do mesmo, causa claras dificuldades de posicionamento, direcionamento de recursos, estratégia comercial e de planejamento.


2. Estratégia digital

A Atlântida produz muito conteúdo. A marca, junto com a submarca Pretinho Básico possuem páginas em todas as redes sociais, Youtube e blog, além de estarem presentes em plataformas de streaming de música como o Spotify. Inegavelmente a produção de conteúdo deles é boa. Porém, desconexa e sem contexto (resultado da falta de posicionamento clara).
Percebo que a distribuição de todo esse conteúdo ainda se dá para uma web 2.0, aonde os usuários iam de encontro ao conteúdo em páginas específicas. Isso não ocorre mais. São as marcas que precisam buscar novamente seus públicos, e aqui, esse movimento não existe. Depender de redes sociais para essa função já não é o bastante.


3. Coerência no discurso

A enorme produção de conteúdo da marca acaba gerando também uma desconexão com a sua identidade. Ou pior, uma falsa conexão. Hoje em dia, talvez o único veículo que pode ser considerado de massa é a TV. E ok, algumas rádios. Mas não é o caso da Atlântida no quesito entretenimento. Por mais que se vislumbre a possibilidade de falar com todos os públicos, é necessário ter um perfil de pessoa definido. Tentar agradar a todos acaba gerando efeito contrário, mais afastando que aproximando.
Atualmente é bem possível refinar o olhar e ter uma atenção bem específica a determinados públicos. Por exemplo, o teor dos textos pode ser mais aberto e leve na rádio e mais pesado e denso na internet, contanto que siga uma única lógica principal.


4. Gestão de pessoas

Praticamente todo o pensamento de entretenimento da rádio se dá pelo produto carro-chefe: o Pretinho Básico. Ouve um tempo em que o programa estava mais preocupado em divulgar a agenda de shows e eventos dos integrantes, do que a atenção com a audiência me si. Provavelmente a estratégia aqui foi em destacar os protagonistas da marca, em prol da mesma. Mas não foi o que ocorreu. Ficou nítido o interesse comercial dos mesmos e a marca ficou em segundo plano. Novamente, não existe problema algum em utilizar-se da empresa empregadora para trabalhos individuais. Até porque, nesses casos, o próprio empregado leva consigo o nome da marca. Mas utilizar-se de espaços nobres na própria emissora para autopropaganda derrapa no antiético, e se acordado com a gestor, uma clara falta de respeito tanto a marca, quanto aos demais anunciantes e óbvio, a audiência.


5. Gestão dos patrocínios

 A forma como a marca insere e gere seus patrocínios é muito questionável. É compreensível a intenção dos produtores de colocar inserções no meio do programa, fazer com que elas façam parte das piadas ou de oferecer elogios “espontâneos” a qualquer hora. Mas isso só é bom para os anunciantes. Digo que é compreensível porque se bem executada, ela tende a dar certo, mas não vem sendo o caso, e quando isso não ocorre acaba gerando um efeito contrário, passando a impressão de discurso falso e por consequência, denegrindo a própria marca anunciante.




6. Aproveitamento melhor da grade de programação

Na lógica da marca, os horários de uma programação não-musicada são os do meio dia (das 11h às 14h) e do final da tarde (das 17h às 19h). Fora isso, o público da rádio quer ouvir música. Não posso dizer que esse argumento esteja errado, até porque existem anunciantes para os demais horários. Mas posso questionar a lógica. A primeira estratégia que sugeri foi o posicionamento, e aqui ele se mostra novamente necessário. Se a marca optar por entretenimento, ela deve ousar e propor mudanças mais agressivas em um modelo de mercado que existe há mais de 20 anos (ou até mais).


7. Podcasts

No blog da marca constam sete programas de “áudios”, como foram denominados. Dos sete, dois são programas de músicas, três são programas falados da rádio e que tem seus áudios repassados para internet e dois, de fato, podem ser considerados podcasts. Os dois não estão mais em atividade.
Podcasts são uma das mais novas ondas de tecnologia do momento. Se vivemos hoje a era dos vídeos, tendências apontam que a próxima onda é a onda dos podcasts, que já vem sendo chamada de Segunda Era de Ouro do Áudio. É no mínimo estranho que uma das maiores empresas de áudio do estado não esteja olhando para este mercado. E esse está, é questionável como esse olhar vem sendo feito. Explico: até tempo atrás era comemorado pelos comunicadores o primeiro ou segundo lugar no ranking de podcasts no Spotify pelo Pretinho Básico. Acontece que esse primeiro lugar pode ser uma falsa ilusão. Uma porque já é mais que comprovado que não dá muito certo essa ideia de levar o conteúdo Off para o Online. E outra porque são enviados ao Spotify no mínimo dois programas por dia, enquanto a média de um podcast exclusivo para internet é de um por semana. Sendo assim, o número pode sim, enganar.


8. Públicos segmentados, conteúdos segmentados

Os dois podcasts de fato, citados acima, eram para nichos específicos. Um falava de filmes e seriados e outro de cultura nerd. É uma boa estratégia, mas que por algum motivo não teve continuidade. Uma pena. A sugestão aqui seria a retomada do foco em públicos segmentados com conteúdo segmentado. As marcas cada vez mais tentam se relacionar com públicos que compartilhem de seus valores. E aqui a Atlântida tem um grande potencial em ser uma agregadora de conteúdo infinito. Digamos que seu propósito como marca seja “oferecer diversão para as pessoas”. O arsenal de opções que essa frase pode entregar é gigantesco. Não apenas trabalhando com programas de rádio ou podcasts, mas com toda uma jornada do ouvinte que o acompanha por todo seu dia. Do outro lado as marcas anunciantes carecem de produtos com um olhar mais atento e penetrado no seu público. Uma simples análise mercadológica do mercado ditaria o caminho do ouro entre viabilidade comercial e conteúdo relevante.


Conclusão:
A Atlântida tem um case de sucesso no mesmo prédio em que mantém seu estúdio. A Gaúcha vem trabalhando muito bem tanto seu conteúdo tradicional de rádio como fazendo uma boa transição para o digital. O resultando vem sendo bons índices de audiência nos dois cenários. Outra rádio que vem utilizando essa mesma tática é a CBN do Rio e jornais como a Folha e o Grupo Estadão, que vem apostando muito em conteúdo para áudio. Esse texto serve apenas para mostrar um cenário de inúmeras oportunidades que vem se abrindo para empresas que nasceram no mundo analógico e agora precisam fazer a transição para o digital. Aqui vale lembrar que a Atlântida não é uma empresa, mas uma marca de um conglomerado de mídia. Sendo assim, uma leitura simples das ações da marca até o momento dá a entender que a mesma não tem uma prioridade tão grande nos planos para os próximos anos. Uma pena. Potencial teria. E muito.

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