O mundo mudou desde terça-feira, não tenho dúvidas! Eu sou e sempre vou ser um otimista em relação a humanidade. Acredito que o ser humano está em constante evolução. Estamos longe de sermos considerados uma raça evoluída. Muito longe! Temos defeitos horríveis. Esse mundo de hoje, que tem tantas maravilhas, mas também tanta tristeza é culpa nossa. É culpa da nossa ganância, do nosso ego e do nosso egoísmo. Não conseguimos conviver em harmonia com os outros. Sempre encontramos problemas, empecilhos e dificuldades para lamentar. Se não encontramos, criamos. Qualquer coisa é motivo para stress, incomodo, ofensas e ameaças. A segunda-feira é o dia mais odiado do mundo. Vivemos esperando o final de semana e as férias. E tudo, o trabalho, o clima, a família, o vizinho, a namorada, o time de futebol é motivo e reclamação.
E vivíamos tempos difíceis! Estávamos descrentes. Ver qualquer noticiário era vergonhoso. Escândalos envolvendo toda a classe política do país, sem exceção, surgiam a cada dia. Depomos uma presidente, derrubamos um presidente da câmara e colocamos nosso presidente do senado como réu. Os três principais poderes do país questionados. Quanto mais investigamos, mais sujeira se descobre.
Aqui no estado salários parcelados, crise de segurança, pais sendo mortos aguardando seu filho sair da escola. Eleições municipais miseráveis, sem o mínimo de respeito entre candidatos. Nos EUA um conservador extremista assume o poder com promessas de fechar fronteiras, expulsar imigrantes e cortar direitos. Aqui, 2018 já traz a sombra de um direita radical. Na Europa mais crise de imigrantes, ataques terroristas cada vez mais frequentes. Na síria uma guerra civil escondida das câmeras. Fora o que não temos nem noção do que ocorre na Ásia e na África.
E na madrugada de terça-feira tudo isso vira um nada. É preciso uma tragédia de proporções mundiais para nós mesmos acordamos de uma cegueira que o dinheiro e o poder trazem. É preciso uma tragédia para voltarmos a entender o que é realmente relevante e o que nos faz humanos de fato.
Por mais triste, trágico e horrível que foi tudo aquilo. O mundo foi melhor de terça para cá. Nunca antes tantas pessoas se solidarizaram por uma causa. Nunca antes um clima de luto tocou a tantos. Parece que aquela terça-feira se estende até hoje. Parece que ela não terá fim!
Não sei se foi pelo fato de ter convivido muito com o jornalismo, e ver 21 colegas de profissão mortos, ou a paixão desde pequeno pelo futebol e ver um time inteiro acabar do nada. Ou por Chapecó ser aqui do lado e a gente bem lá no fundo torcer um monte e sentir orgulho pela Chape. Ou pela ascensão meteórica deles e o fato de estarem chegando para a sua primeira final internacional. Ou pelo Kempes, Biteco, Thiego, Ananias, Danilo, Dener, Cleber Santana e o Caio Junior. Pelo Alan Ruschel e o Josimar, que a gente xingava da arquibancada do Beira-Rio. Pelo Bruno Rangel que merecia um estatua só para ele por tudo que fez pela Chape. Pelo Tiaguinho que descobriu a um mês que seria pai. Pelo Mario Sérgio, o Deva, o Clemant, o Chermont. Elas eram de casa!
Eu sou otimista quanto ao futuro da humanidade e acredito na evolução humana. Mas nos dias atuais ainda precisamos de tragédias como está para colocarmos de volta os pés no chão. Para entendermos que estamos sozinhos em um universo infinito e que precisamos e dependemos de nós mesmos para seguir em frente. Falta ainda muita evolução para percebermos que o mundo não é “meu” ou o de “você”, mas é o “nosso”.
E é curioso que nesses momentos o “nosso mundo” surja tão forte! A onda de compaixão que se estendeu por todo o planeta é fantástica. Mas porque ela só aparece nesses momentos? Por que não hoje, amanhã e sempre! Por que compartilhar sentimentos, sorrisos e emoções ainda é tão difícil.
A Chape mostrou o quanto somos iguais. Destruiu em segundos todas as rivalidades, desavenças, invejas e discórdias. Nenhuma discussão fazia sentido depois daquilo. Nada fazia sentido perto de vidas perdidas.
E o irônico é que antes disso, estávamos nós mesmos perdendo nossas vidas escondidos em problemas e dificuldades que achávamos impossíveis.
A Chape mostrou que tem coisa muito mais importante para nos preocuparmos. Não deixa de ser uma lição. Das mais difíceis e duras de se aprender. Ela mostrou que o que temos de mais valioso aqui nesse mundo é o nosso tempo. Que nada paga o tempo perdido, o abraço não dado, a fala não dita, o sorriso não retribuído.
São essas ações que vão importar lá no fim. São essas ações que nos tornam humanos, e são essas ações que nos farão evoluir!
Eu sempre fui otimista quanto ao futuro da humanidade e espero de coração que tudo que aconteceu na última terça feira, por mais doído que ainda seja, nos eleve, nos cure e nos transforme em pessoas melhores!
Em tempos assim, você aprende a viver de novo
Em tempos assim, você se entrega e entrega de novo
Em tempos assim, você aprende a amar de novo
Times like these, Foo Fighters
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