Pular para o conteúdo principal

Song for Someone





Pois é,
O texto tem um teor pessimista, e por esse motivo é interessante que ele não seja muito longo e tome muito do tempo de quem o lê. Que seja então breve, curto, mas que não perca em si a sua essência e propósito.
Bono, compôs ano passado a música “Song for Someone”, na qual apresenta a seguinte frase: “há um mundo que não podemos sempre ser”. No contexto dos demais versos, o autor mostra-se desanimado com a sua realidade, e coloca em dúvida exatamente o que nos motiva a viver o cotidiano. Por mais que sejamos propensos a um futuro otimista, construímos essa visão com base na realidade pela qual vivemos, que colocada em proporção com o restante do mundo é ínfima. Mesmo assim a tratamos como verdadeira, visto que se tratar do meu mundo, analisado sob o meu ponto de vista. A mídia contribui com isso. Quando não vemos o mundo a nossos olhos, o enxergamos aos olhos dela. Aí, de certo modo, a coisa muda. Vemos uma realidade mais ampla, sobre outros aspectos e pontos de vista, porém, da mesma forma pequena, se colocada em proporção ao restante do mundo. Junte isso ao fato de que, com a era digital, cada vez mais ficamos propensos a receber informações e notícias que vão de encontro ao nosso ponto de vista, e não contrário. 
Pegando um exemplo atual, um petista, uma vez sendo contra o impeachment da Dilma, provavelmente terá em suas redes sociais mais “aliados” do que “opositores” a sua causa, também este, ao usar a internet, uma vez que esta é livre, buscará por notícias e informações pró-governo, visto entender que sua opinião é a correta e assim não haver a necessidade de ir atrás da informação da oposição. O mesmo exemplo pode ser usado invertendo os lados.
Em resumo, estamos propensos a ficar cada vez mais “bitolados”, presos a ideias, que por mais que tenham certa consistência e sejam coerentes, precisam da discussão e do questionamento para serem fortalecidas. Ouvir uma segunda opinião, não é uma fraqueza, pelo contrário, é um gesto de hombridade.
Sabemos que a diplomacia não é uma das melhores virtudes do ser humano e por mais que a discussão acima se mostre como um problema moderno, talvez seja um dos mais antigos da humanidade. A diferença é que hoje, as discussões, uma vez feitas na mesa do bar, tem alcance global.
Aonde quero chegar com isso? Pegue o mapa-múndi na tua frente. Qual a principal diferença entre os continentes e os oceanos? Fronteiras! Povoamos todos os cantos desse planeta, mas para isso foi preciso fronteiras. Foi impossível povoar o planeta inteiro sem dividi-lo. Aliás, a própria terra foi o principal motivo de guerras por toda a história. Somos humanos que desde que aprendemos a manusear ferramentas, manipular o fogo e se comunicar, desaprendemos a viver em humanidade. 
Voltando a música e a frase então citada, talvez seja essa mesma a resposta. Quando gritamos por paz, por união, por fraternidade, por harmonia, talvez estejamos gritando um sonho que nunca vamos viver. Essa luta nada mais é do que um desejo inalcançável, que teimamos existir.
Bono é um ativista, provavelmente rodou todo o mundo ou cantando, ou envolvido em programas sociais. Com certeza já viu de tudo de mais incrível e devastador que o ser humano fez. O fato dele escrever uma frase dessa grandeza, talvez represente um pouco do que ele guarda consigo, ao final de tudo.
No entanto, ao seguir a canção ele diz “e há uma luz, não deixe-a apagar”. Por mais desiludido e desmotivado com o ser humano, o autor propõe que há uma luz, por mais utópica que ela seja. É difícil acreditar na luz que o autor cita. Somos diferentes, gananciosos, egoístas, invejosos... Talvez por isso a música se destine a “alguém” sem nome. A alguma esperança a surgir e que carrega a tal luz que não se deve apagar.
Mas sou teimoso, por mais que os fatos e até meu pensamento demonstrem o contrário, prefiro pensar o oposto, prefiro crer que sim, um dia chegaremos a plenitude, e enquanto ela não chegar, continuaremos falhando, errando e recomeçando. Pois afinal, somos humanos, e o que melhor sabemos fazer é sonhar. Por mais que esse sonho seja impossível ou nem exista.



Song for Someone - U2

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O amor é a flor da pele e eterno!

“Antigamente, se alguém tivesse um segredo que não quisesse partilhar, subiam uma montanha, procuravam uma árvore, abriam um buraco nela e sussurravam o segredo para dentro do buraco. Por fim, cobriam-o de lama e lá deixavam o segredo para sempre” A frase acima é dita por Chow Mo-Wang a seu amigo Ping, no filme Amor à Flor da Pele (2000), do diretor chinês Wong Kar-Wai, em uma das histórias de amor mais bem contadas do cinema, segundo muitos críticos. Kar-Wai consegue em seu filme dedicar ao amor a tradução que talvez mais o represente: a eternidade, ou o popularmente, até que a morte nos separe. Na história, conhecemos sr. Chow e a srta. Li-zhen Chan, os dois se mudam para Hong Kong da década de 60 com seus respectivos cônjuges no mesmo dia, onde ocupam quartos vizinhos de um mesmo edifício. Em comum, além do lugar onde vivem, os dois tem a ausência total dos parceiros, e posteriormente uma descoberta: seus cônjuges estão tendo um caso entre si. A descoberta aproxi

Volver

Falar de Almodóvar nunca é fácil. Uma das características do cineasta espanhol é seu atrevimento e coragem em propor nas telas seus conceitos e ideias. E é de atrevimento e coragem que se faz esse texto, ao tentar transpor em palavras um pouco de um dos filmes que mais aprecio em sua filmografia: Volver. Volver conta a história de Raimunda (Penélope Cruz), mulher casada e com uma filha de 14 anos, que ainda tenta superar a morte de sua mãe, enquanto cuida da tia. A personagem de Cruz, inclusive, é quem carrega o filme por completo e dá alma à trama. Cada cena da atriz renova o filme, que composto por um excelente roteiro, nunca deixa a história se esvair ou perder força. Não à toa, em muitas vezes vemos Penélope enquadrada ao centro da tela, tomando para si toda a sustentação do longa. Traduzindo essa percepção para a personagem Raimunda, é assim que ela também encara a sua vida. Uma vez que, mesmo com um casamento complicado, dificuldades financeiras crescentes e um passado

Sobre jornalismo, marketing e uma das maiores tragédias do país

Eu não entendo de prevenção de desastres, gestão de crises e ações do governo, mas entendo de jornalismo e marketing. E sobre esses dois pontos, a história tende a julgar o que aconteceu esta semana no país.  Jornalismo: Não é a maior tragédia do estado, é uma das maiores tragédias do país, e as demais regiões do Brasil demoraram ou ainda não estão entendendo o tamanho dessa escala. E parte dessa culpa recai sobre a mídia. A nível nacional não houve plantão, a programação seguiu sua transmissão normal e pouca, muito pouca prestação de serviços. O fato foi comunicado apenas de maneira jornalística. Em tragédias, o jornalismo deixa de ser veículo de comunicação e passa a ser serviço público. Para não ficarmos apenas pensando em TV e rádio: eu assino uma newsletter diária de notícias que chega para milhões de pessoas em todo o país. No dia 2 de maio, a newsletter utilizou três linhas para comunicar sobre o Rio Grande do Sul. Três linhas. O jornalismo não é mais mecânico, e os termos, as