Chaves:
- Uma vez eu vi um gato
com um olho só
Seu Madruga:
- Era cego?
Chaves:
- Não
Seu Madruga:
- Então por que viu o
gato com um olho só?
Chaves:
- Porque eu tapei o meu
olho esquerdo
------------
Seu Madruga:
- Kiko, você está
falando com o regador?
Kiko:
- Parece um regador não é? Só
que não é.
Seu Madruga:
- Então o que é?
Kiko:
- É um cachorro
Seu Madruga:
- Olha Kiko, diga
para a sua mãe que na salada a gente coloca vinagre e não cachaça.
A primeira
lembrança que me veio a cabeça quando soube da notícia foi do meu avô. Chapolin
e Chaves, eram os programas favoritos dele. Quando voltava do trabalho, no
final da tarde, antes do Jornal Nacional, o SBT era imbatível na audiência lá
em casa.
Ele já tinha
visto todos os episódios, sabia de cor todas as cenas, mas não importava, o
riso sempre estava lá, seguido das gargalhas e dos comentários: “Olha lá, vai
apanhar de novo!”, “Quer ver ele se dar mal?”, “Mas é burro esse Chapolin”. E
eu assistia junto, e ria igual, do mesmo jeito. Talvez fossem os únicos
programas que assistíamos e nos divertíamos juntos. Jogo do Inter ou do Grêmio
não valia porque ali a rivalidade pegava.
O interessante
é que os bordões dos programas ás vezes saiam da tv e iam para a vida real. Não
era raro ouvir ele dizendo “não contavam com a minha astúcia”, ou “é que me
escapuliu” no dia a dia.
Acredito que
para um artista, chegar ao ponto de unir duas gerações separadas mais de 60
anos pelo humor seja sua maior façanha. Bolaños tinha isso, e era essa
simplicidade e ingenuidade de Chaves e Chapolin que o faziam universais. Ainda
hoje seus textos divertem e comovem fãs de todo o mundo.
Mesmo
trabalhando com cenários de papelão, efeitos visuais horríveis e figurinos
bregas, Bolaños tinha consigo dois fatores difíceis de se copiar: sua
genialidade e criatividade sem limites. Isso, aliado a um elenco impecável
construíram uma obra imortal, que levará muitos anos para se apagar.
Bolaños não
era um gênio por trás das câmeras, não criava histórias fantásticas, não
brincava com metáforas e nem se preocupava em contar a história junto com o
espectador. Ele era puro e simplesmente divertido em sua forma de ser. Meu vô
adorava pois o programa tinha uma linguagem visual muito viva, e facilitava
muito para ele, devido ao seu problema auditivo. Eu pirava com as aventuras do
Chapolin, tinha medo dos duendes e saia cantando “thuinthuinthunclain” na
escola. Para outro, poderia ser as piadas secas e simples, os bordões
impagáveis, as expressões do seu Madruga, os vilões do Chapolin, as férias em
Acapulco... o que seja, Chaves e Chapolin agradavam a todos, não importando
raça, idade ou classe social.
No fim da vida
meu avô foi acometido por uma doença que o deixou debilitado por anos. Ele
passava quase todo o dia na cama. Lembro uma vez que ele sentou na sala para
ver tv, era horário do Chaves então troquei de canal e sintonizei o SBT. Mas
nos poucos minutos que ficou ali, ele não ria mais, a dor era tão forte que logo
depois levantou-se e voltou para o quarto. Reclamava em lágrimas “nem mais o
Chaves eu consigo assistir...”, e voltou para a cama.
Bolaños fez o
mesmo este final de semana, aposentou o uniforme vermelho e roupa cinza
costurada. Com certeza o céu ficou muito mais animado, e meu avô finalmente vai
se encontrar com aquele que, sem querer, querendo, o fez rir muito e deixar seus
dias mais leves e divertidos.
R.I.P
Comentários
Postar um comentário