Pular para o conteúdo principal

Oscar 2014

Meus últimos inícios de ano seguem uma rotina fantástica! Além de Sol, praia, mar e verão, é a época do ano que mais fico próximo do cinema, a arte que escolhi por paixão! O motivo é os Academy Awards, ou a premiação do Oscar, que este ano aconteceu no último domingo!
Mesmo sendo uma premiação que contempla Hollywood e o cinema norte-americano, a qualidade dos filmes, inegavelmente é superior ao que acompanhamos no restante do ano. É obvio que festivais como Sundance, Berlim, Veneza e principalmente Cannes também são supervisionados, mas com a grande comercialização dos filmes indicados ao Oscar e também o “clima” de férias de fevereiro oportunizam uma pesquisa maior nessa época. O Oscar também abre portas para uma análise mais profunda dos filmes, nos faz assistir a uma película com o olhar voltado nas atuações, na fotografia, na direção de arte, na ideia do diretor e nos diálogos propostos pelo roteirista. Ao mesmo tempo que os ouvidos ficam atentos a edição e mixagem do som e a trilha sonora! Tudo isso, junto, constrói uma obra prima, analisando cada peça individualmente podemos escolher os melhores em cada categoria, analisando o conjunto da obra, o mundo reverencia aquele que ficara com o título de melhor do ano.

Parênteses: a quatro anos seguidos faço apostas nos indicados. Até hoje o saldo é mais positivo do que negativo. Faço isso por dois motivos: primeiro, pela emoção de acompanhar a cerimônia com a possibilidade de ganhar dinheiro, claro. Segundo, pois me obriga a assistir aos filmes e analisá-los integralmente, alguns sendo necessário ver mais de uma vez. Sempre faço dois palpites, o primeiro pela aposta em si, analisando também as premiações anteriores e o próprio modo como funciona a premiação. E o segundo pelo meu próprio gosto! É interessante notar que com o passar do tempo essas duas opções vem se igualando.

Extravagâncias a parte, considero o Oscar minha escola de cinema. Lembro que nos primeiros anos pesquisava o que fazia um design de produção para entender o que isso representava no filme, e isso me fez observar cada detalhe escondido em cenários e ambientações. Lia sobre a pesquisa incrível que um figurinista faz para cada roupa do filme, e compreendi a paixão por detrás daquele profissional que passa duas semanas buscando um réplica de um anel de 1920 que talvez nem apareça em cena. Ficava de boca aberta com o estudo de cena de um diretor de fotografia para captar o melhor ângulo e a melhor iluminação, sem falar na genialidade de diretores, atores e roteiristas em deixar tudo perfeito e verossímil diante da câmera.
Este ano, infelizmente por falta de tempo e atrapalho na agenda, acabei vendo muito pouco dos filmes indicados, mesmo assim consegui ver os principais. E quando um filme te desperta o desejo de escrever sobre ele, é melhor deixar-se envolver e soltar a palavras. Vamos lá então:


Doze anos de escravidão (12 Years a Slave):
Resumo: O filme conta a história de Solomon Northup,  um homem negro livre que foi sequestrado e vendido como escravo.
Indicado a 9 Oscars, vencedor de 3:
Filme
Roteiro adaptado – John Ridley
Atriz Coadjuvante – Lupita Nyong’o



A história absurda adaptada do livro com o mesmo nome do próprio Solomon Northup é incrível, triste e vergonhosa. O filme em si é grandioso, principalmente pela mão firme do diretor Steve McQueen, que por duas horas conduz o espectador de modo linear, deixando espaço para Chiwetel Ejiofor (indicado a melhor ator) e Lupida Nyong’o (Oscar de melhor atriz coadjuvante em seu primeiro filme) brilharem. É interessante notar como em momentos de muita brutalidade, McQueen parece esconder-se com a câmera e em outros momentos mantem-se distante do ato em cena, como se mostrasse vergonha pelo que está presenciando, ou até mesmo passando ao telespectador a própria impotência deste, diante de flagelos explícitos. Em uma das cenas mais angustiantes do filme, isto fica nítido quando observamos, em câmera estática, um escravo lutando pela própria vida. McQueen nos insere no contexto da história, que, mesmo contrários a escravatura, não temos (naquela época) poder algum sobre ela.
                O roteiro de John Ridley (Oscar de melhor roteiro) é preciso neste ponto, dando destaque a fé cristã da época como tentativa para justificar a escravidão. Ao mesmo tempo em que donos de fazenda recitam trechos bíblicos e os traduzem da forma que há de convir, com discursos prontos e na ponta da língua, de um outro lado vemos escravos cantando canções religiosas de olhos fechados e lágrimas nos olhos. Com isso o roteiro sugere também um questionamento sobre fé, religião e com o homem utiliza-se dela para seus próprios interesses. Sejam eles capitais (fazendeiros) ou buscando uma redenção (escravos).
                E redenção é o que consegue Chiwetel Ejiofor. Destaque também para o trabalho de maquiagem do filme que transpassa os doze anos de escravidão do protagonista com detalhes sutis, como fios de cabelos brancos, marcas de chicote e fisionomia pesada. Ejiofor tem presença de palco o filme inteiro e se sua atuação não exige muita performance física (comparado aos demais concorrentes ao Oscar), a expressão facial do ator impressiona, e a transformação do homem culto e formal, ao desespero de perder a sua vida e sua família da noite para o dia comovem e marcam! Lupita Nyong'o e Michael Fassbender (também indicado a melhor ator coadjuvante) colaboram para o grande elenco do filme com atuações fortes e impecáveis.
                Acima de todos seus detalhes técnicos, Doze anos... é um filme que deve ser visto pela sua crítica pesadíssima a humanidade e questão da escravidão, tantas vezes debatida, mas infelizmente ainda não superada. Fiquei muito feliz em saber que o livro de Solomon e o longa de McQueen serão distribuídos nas escolas públicas norte-americanas a partir de setembro como ferramentas de estudo. Diante disso, o Oscar é mera regalia.


Chiwetel Ejiofor

Cena que deu o Oscar a Lupita



O Lobo de Wall Street (The Wolf of Wall Street):
Resumo: A história de Jordan Belfort, um estelionatário e boa vida de Wall Street.
Indicado a 5 Oscars, não venceu nenhum



A história de Jordan Belfort, que chegou a ser milionário enganando pequenos investidores em Wall Street é vivida por Leonardo DiCaprio (indicado a melhor ator), novamente em uma atuação excelente. Assim como “12 anos...”, Wall Street é um filme robusto, com três horas de duração é muito provável que nas mãos de qualquer diretor menos experiente o filme virasse um vexame. Por sorte, quem tomou as rédeas do projeto foi o gênio Martin Scorsese, e Wall Street é scorsesiano ao extremo. Da decupagem rápida e intensa, passando pelas tomadas geniais e extensas como a luta entre DiCaprio e Johan Hill (indicado a melhor ator coadjuvante) até a trilha sonora que encaixa perfeitamente e vai de Foo Fighters a Elmore James.
              O resultado é que mesmo com 180 minutos, o filme nunca perde o ritmo, que acompanha os altos e baixos da vida de Belfort, graças também a um roteiro muito bem elaborado, de diálogos empolgantes e muito palavrão. É interessante notar que Scorsese, mesmo contanto a história de Belfort e fazendo ele próprio narrá-la ao público, acaba enganando o próprio Jordan e praticamente desfazendo-se de seus trejeitos a partir de que a história toma contornos ridículos. Se nas primeiras cenas DiCaprio dialoga com a câmera quase que dirigindo o filme, aos poucos essa abertura é esquecida e o terceiro ato do filme, com exceções de narrações em off, é visto inteiramente sob o olhar do espectador.
                Scorsese tem consigo um trunfo. Leonardo DiCaprio aparece praticamente em todas as cenas do filme e é a alma de Wall Street. Dá tom a história, incorpora o protagonista com força e humor e constrói, no mínimo, três cenas memoráveis durante o filme. A parceria com Johan Hill encaixa e o restante do elenco também não fica para traz, oferecendo alívios cômicos ao longa. Destaque também para a montagem do filme, difícil e certeira e que, diferente de “Trapaça” (indicado a melhor filme), constrói uma boa harmonia entre os principais núcleos do filme e oferece espaços longos e de destaques para atuações e diálogos.

Mcconaughey tirando o Oscar de DiCaprio

DiCaprio dando show


Ela (Her), de Spike Jonze:
Resumo: Relação de amor (?) entre Theodore e seu sistema operacional.
Indicado a 5 Oscars, vencedor de 1:
Melhor roteiro original



Sim, a história do filme é essa mesma do resumo e é incrível. O novo filme de Spike Jonze pode ser analisado de duas formas: a primeira, sobre um prognóstico do nosso futuro e da interação, cada vez mais forte, que temos com computadores e smartphones. E a segunda, que questiona o que são nossos sentimentos, como eles se formam e qual a necessidade que temos de nos relacionar nesse mundo. Jonze é perspicaz e trabalha sua direção unicamente na relação dos dois, sem dar muita explicação ao mundo em si ou ao contexto histórico ao qual se encontra, deixando isso com a competente direção de arte, figurinos e fotográfica, que mescla tons pastéis com um futuro um tanto quanto melancólico!
                Presos na vida de Theodore, interpretado por Joaquim Phoenix, somos jogados a sua realidade, e em 30 segundos de filme compreendemos toda a essência incrível de “Ela”. A câmera faz um close no rosto de Phoenix enquanto este recita um poema. Ao final ele comanda “print”, e uma impressora imprime tudo o que ele disse, há sua frente, um computador. Enquanto visualizávamos o rosto de Phoenix tínhamos a certeza da emoção nas suas palavras, e no fim aquilo era transmitido para uma máquina, que não retribuiria esse afeto. Ao mesmo tempo em que fala “print” a expressão emotiva na sua face desaparece, assim como toda a emoção. E essa é a essência de “Ela”. Nossos relacionamentos são frutos do compartilhamento de sentimentos entre nós mesmos, ou uma idealização fantástica feita pelo nosso cérebro? Nos apaixonamos pelo que a pessoa é em si, ou pelo que imaginamos que ela seja? Entrando na ideia do filme, o que Theodore sente por Samantha (o nome do sistema operacional) é real ou ilusão? A diferença entre Samantha e uma pessoa real é unicamente o corpo físico, mas é o corpo físico que nos faz apaixonar por alguém? Aliás, se para qualquer pessoa que responda sim a esta última questão, apaixonar-se por um par de pernas não é um tanto quanto assustador, ou até mais, do que se envolver com uma tela de computador? O filme desperta milhares desses questionamentos que ficam sondando a cabeça por um bom tempo, ainda mais acompanhada pela belíssima canção de Karen O, The Moon Song (indicada a melhor canção), onde suas estrofes se repetem sem parar... “but with you, my dear, i’m safe and we’re a million miles away...”

The Moon Song


Gravidade (Gravity), de Alfonso Cuáron:
Resumo: Atingidos por estilhaços de um satélite, dois astronautas ficam à deriva no espaço.
Indicado a 10 Oscars, vendedor de 7:
Diretor
Fotografia
Trilha Sonora
Efeitos Especiais
Edição
Edição de Som
Mixagem de Som



Eis a grande obra de ficção do ano e porque não dizer da década? O cinema de ficção passava por um decadência terrível. É até engraçado dizer que o último filme do gênero que me prendeu a atenção é uma animação: Wall-e (Wall-e, 2008), passando por A Origem (Inception, 2010) e no longínquo 1999, com Matrix.
                Porém, nenhum destes trabalhou em um cenário tão ficcional um tema tão introspectivo (a depressão) quanto Gravidade. E justamente este ponto, em que muitos criticam a abordagem de Cuáron, é onde o filme mais cresce. No entanto, justiça seja feita, é impossível não se espantar com a beleza dos efeitos visuais, da direção e da fotografia de Gravidade. Tive a oportunidade de ver o filme no cinema e em 3D, com a qualidade de vídeo e áudio 4K, a melhor do país. É inegável que tudo isso colaborou para colocá-lo no topo dos filmes vistos em 2013 e meu queixo ter caído no chão por vários momentos.
                A sequência de abertura de Gravidade é fora de série, o modo como a história é contada, sem nenhuma introdução e te jogando diretamente a realidade dos astronautas colabora com isso. É um roteiro totalmente imprevisível, e se a falta de gravidade no filme apavora Matt Kowalski (George Clooney) e Dra. Ryan Stone (Sandra Bullock, indicada a melhor atriz), a direção de Cuarón te deixa sem respirar. Direção esta que, com certeza é o grande fator de sucesso do longa. A câmera, que nunca fica parada, acompanha a falta de gravidade no espaço, as tomadas em primeira pessoa, registram o drama de Stone, assim como os poucos cortes de cena acompanham os passos e movimentos lentos de alguém que não tem domínio sobre suas ações.
                Se por um lado, tudo colabora par este clima fantástico no espaço, por outro, a extrema sorte da personagem de Bullock nos deixa em certos momentos desconfiados do realismo apresentado. Talvez esses pequenos detalhes possam ter tirado o Oscar de Gravidade, que em uma perspectiva geral desagradam, porém, durante a exibição, enquanto já se está fisgado pelos efeitos visuais, tais “falhas” são relevantes.
                Assim entramos no segundo ponto do filme, quando nos aprofundamos no drama pessoal de Stone. E nesse ponto, tanto a atuação de Bullock, competente porém não a altura do filme, e os diálogos, um pouco sem sal, deixam a desejar. Mesmo assim, somos apresentados a cenas memoráveis, como a tentativa de contato com a Terra e o “renascimento” de Stone, sozinha, presa ao espaço. Cuarón é inteligente e dá liberdade total a Bullock trabalhar, em tomadas longas e emocionantes e nos dá tempo para penetrar naquela realidade. Como por exemplo nos vários momentos em silêncio do longa, que demonstram a profunda sensibilidade do diretor com a cena e a trama em si. Por fim, poucos filmes misturam tão bem silêncio com música, e Gravidade é digno em ambos. Desde a sonoplastia até as poucas mas eficazes músicas fazem e muito bem seu papel durante o longa.

The Sunrise

Assistir ambas em HD, obrigatório


Clube de Compras Dallas (Dallas Buyers Club), de Jean-Marc Vallée:
Resumo: Ron Woodroof (Matthew Mcconaughey) é diagnosticado com AIDS, sem alternativas de medicamentos eficazes, monta um clube para o tráfico de alternativas de cura ilegais.
Indicado a 6 Oscars, vencedor de 3:
Ator
Ator Coadjuvante
Maquiagem e Cabelo



Clube de Compras Dallas se resume as atuações de Mcconaughey (vencedor de melhor ator) e Jared Leto (vencedor de melhor ator coadjuvante), que interpreta um(uma) transsexual que vira parceiro(a) de Mcconaughey. O diretor Jean-Marc Vallée faz um trabalho competente, uma direção correta e oferece o filme a Mcconaughey e Leto. Estes, por sua vez fazem seu show a parte. Mesmo sendo as duas categorias das quais torci para que outros ganhassem (DiCaprio como ator e Fassbender como coadjuvante) é inegável a impecabilidade do trabalho dos dois. O primeiro, peça chave da história, constrói e molda todo o filme. Com uma atuação segura e forte, Mcconaughey está irreconhecível, exercendo um trabalho de atuação física igualmente fantástico. É interessante notar que, com poucas transformações durante as duas horas do longa, o protagonista conquista a simpatia do público e das pessoas ao seu redor aos poucos e com gestos sutis. Mcconaughey é sensato também ao não se entregar a apelação barata, entregando seu personagem ao desespero apenas uma vez, e cortada de maneira rápida pelo diretor, com o possível intuito de esquecer de vez este momento. Talvez até, por falta de tempo de se lamentar, Woodroof precisa enfrentar além da doença, o preconceito, a fiscalização e sua própria dignidade, não há espaço para lamentações. Porém é interessante notar que o ator apresenta esse desespero em pequenas cenas, como por exemplo se rebaixando em pedidos novas medicações ou se estatelando no chão na tentativa de dar um soco. Dessa fase, Mcconaughey cresce seu personagem e começa a se desprender dos estereótipos do cowboy texano e dando as caras a um ativista que luta contra a indústria farmacêutica. E é aí que Mcconaughey recebe seu Oscar, sem nunca deixar de ser quem foi por criação (cena que abandona seu trailer), ele faz Woodroof encarar sua nova realidade e lutar por ela com o mesmo vigor que, até aquele momento, encarava a sua vida (cena em que invade o hospital).
                Detalhe importantíssimo é o físico cadavérico de Mcconaughey, que colabora na personificação do personagem. Woodroof, que sempre aparece se segurando em pilares, ou tossindo, ou deitado de forma desajeitada expressando diante das câmeras sua degradação. Não é atoa que o trabalho de maquiagem sempre buscou mostrá-lo com machucados no rosto e a direção de arte em cenários sujos e empoeirados. Diante disso somos apresentados a um Jared Leto irreconhecível, que participa praticamente de todo o segundo ato com uma atenção inspiradora. Ainda que escondido entre toneladas de maquiagem e perucas é interessante notar que a cena em que lhe rende o Oscar é filmada sem nada disso, com Leto em frente ao espelho, observando quem é e no que se transformou. Oposto ao trabalho de Fassbender em 12 Anos..., explosivo e intenso, aqui Leto traz uma instrospecção tocante, mostrando um lado escondido de um personagem que aparece pouco, mas que deixa a vontade de conhecê-lo um pouco mais.

Trailer


Trapaça, (American Hustle), de David O. Russel
Indicado a 10 Oscars, não venceu nenhum
Resumo: Agente do FBI trabalha junto a dois trapaceiros para desarmar esquema de corrupção da cidade



Trapaça é um filme interessante, porém com suas limitações. O filme em nenhum momento chega a ser ruim, mas a régua de nivelamento deste Oscar foi alta, e comparado a seus concorrentes, Trapaça é tranquilamente jogado para escanteio. Dentre os trunfos do filme, sem dúvida, o principal deles é o elenco. Cristian Bale (indicado a melhor ator), Bradley Cooper (indicado a melhor ator coadjuvante), Amy Adams (indicada a melhor atriz) e Jennifer Lawrence (indicada a melhor atriz coadjuvante), dão aula de atuação e harmonia, com nobre honrarias a Adams. Num papel difícil e complexo, durante toda a película ela faz de sua Sidney uma personagem cada vez enigmática e misteriosa. Ao passo que Bale, o cérebro da equipe, traz presença e conquista com um carisma fácil e Cooper, por vezes enérgico e em outras investindo no humor trabalha bem nos momentos tensos e engraçados da trama.
                O trabalho do design de produção recria com perfeição os anos 70, com detalhes extravagantes e impecáveis, desde o figurino aos ambientes totalmente estilizados. A maquiagem, inclusive, e trabalhada como mote para o humor em diversos momentos. Aliás, esta serve também para conhecermos mais sobre a personalidade de cada personagem. Como a delicadeza e cuidado excessivo de Bale com seu cabelo, mostrando a perfeição e cuidado dele com seus planos e carreira. As mudanças excessivas de penteado de Adams, dando alusão as próprias mudanças de intenção da personagem e os exageros e obsessão por unhas de Jennifer Lawrence, dando ideia da futilidade que é a sua vida.
                Por fim, a reviravolta do roteiro no terceiro ato empolga e conclui bem o longa que dá a impressão de perder o fôlego no segundo. O. Russel em certos momentos parece se perder na tentativa de desenvolver uma superprodução hollywoodiana papa-Oscars quando a melhor opção talvez fosse trabalhar um filme mais simples e menos fantástico. História e elenco é o que não faltou!

Bale scene


Blue Jasmine (Blue Jasmine), de Woody Allen
Resumo: Jasmine (Cate Blanchett, melhor atriz) perde todo o dinheiro e volta a morar em San Francisco com sua irmã.
Indicado a 3 Oscars, vencedor de 1:
Melhor Atriz



Sou suspeito demais para falar de Wood Allen, sua última sequência de filmes, produzidos em importantes cidades do mundo é fantástica. Vicky Cristina Barcelona, em Barcelona, Meia noite em Paris, em Paris, Para Roma com Amor, em Roma e este Blue Jasmine, filmado em San Francisco, nos Estados Unidos. Por mais que você assista a qualquer filme de Allen com o pé atrás, é impossível não ser carregado pelo estilo único do diretor logo nos primeiros minutos do filme. E com Blue Jasmine não é diferente. Acompanhado (como sempre) de uma trilha sonora irresistível, somos apresentados imediatamente a Jasmine, uma protagonista totalmente antipática, que Blanchett e Allen tem o cuidado de nunca colocarem frente a câmera, produzindo uma antipatia ainda maior. E ai esta o trabalho impecável de Blanchett. Com uma personagem difícil nas mãos, a atriz faz uma atuação ousada, sondando entre uma mulher falida que ainda vive num status de alta sociedade, com a constante conscientização de sua nova realidade e novos amigos. Em meio a isso encontramos Ginger (Sally Hawkins, indicada a melhor atriz coadjuvante), que é justamente o oposto de Jasmine mas que vê nela a realização dos sonhos e da felicidade que nunca conseguiu alcançar. O roteiro de Allen é curioso e inteligente, chocando-se de frente as irmãs começam a perceber quem realmente vivia a verdadeira felicidade ou, por que não, cada uma compreendendo o modo como a outra aprecia a vida a partir do que a vida ofereceu a ela. Os flashbacks recontando o passado de Jasmine durante todo o filme são importantes e vão alimentando cada vez mais o entendimento do espectador de como a personalidade de Jasmine e Ginger foram moldadas. Méritos para uma edição competente que encontra a hora exata de intercalar a história.
                Como não poderia deixar de lado, o humor sagaz e pertinente de Allen se faz presente em bons momentos da trama, nivelando o clima do longa e transpassando um pouco de leveza e descontração a trama, ao contrário do ambiente tenso e melancólico de Jasmine.

Trailer


Frozen – Uma Aventura Congelante
Resumo: Irmãs herdam reino dos pais, mas precisam lidar e descobrir seus segredos.
Indicado a 2 Oscars, vencedor de 2:
Animação
Canção Original



Aos poucos parece que a Disney, depois de comprar a Pixar, está voltando a produzir boas animações. A divisão dos homens de criação da empresa criada por Steve Jobs pareceu favorecer a empresa de Mickey Mouse. Se por um lado, os três últimos filmes da Pixar não empolgaram (Carros 2, Valente e Universidade Monstro), a Disney vem apresenta um sucessivo crescimento com Enrolados, Detona Ralph e este último: Frozen, que assim como o sucesso máximo da Pixar, Toy Story, nada de infantil tem em sua história.
Em verdade, para trazer o respiro cômico da trama e chamar a atenção das crianças temos Olaf, um simpático boneco que neve que diverte e conquista fácil o público.
A animação tenta ser democrática no espaço oferecido aos protagonistas (são três), o que parece oferecer um certo apuro no roteiro, visto a gigantesca história a ser contada e o pouco tempo de reprodução. Com isso, nos primeiros quinze minutos do longa somos apresentados a uma enxurrada de informação para compreender a história que é transmitida de maneira fácil, mas que talvez deixe os menores um pouco confusos! Quando a história definitivamente começa, já são passados trinta minutos do longa, uma jogada arrisca, mas que no caso de Frozen funciona, principalmente no fato do roteiro se deter em longas cenas buscando uma empatia entre personagem e público e não se preocupando muito em explicar a história ou detalhar informações. Esta é a primeira vitória do longa, que fazendo pequenas conexões durante história, consegue deixar o filme com um ritmo rápido e bom de assistir.
A segunda grandeza é seu maior trunfo, as canções (na versão original, não a dublada), produzidas exclusivamente para o longa e que ajuda a contar a história e a apresentar os personagem. O primeiro ato do filme é praticamente um musical. De música em música acompanhamos a história das irmãs de uma maneira impossível de não se emocionar e estabelecer afinidade. Esta primeira parte é finalizada com a canção "Let It Go" (Oscar de melhor canção), que, além de linda e emocionante, consegue estabelecer um ponto de partida para a história em si e reduzir toda a transformação de uma protagonista em dois minutos de cena. Ela, junto a "Do You Want To Build A Snowman?" e "For The First Time in Forever" estabelecem um trio musical incrível, que a tempos não se via em uma animação e lembrando, porque não, grandes clássicos do estúdio como A Bela e a Fera (Beauty and the Beast, 1991), Alladin (Alladin, 1991) e O Rei Leão (The Lion King, 1994).
Por fim, um filme que fala do tema magia, confere sua principal mágica em apresentar uma história que fala essencialmente de amor em uma linguagem infantil, sutil e muito cativante. É a Disney voltando a fazer o que mais soube construir e seus tempos áureos, contos de fadas simples, com personagens e músicas eternas!
E assim como qualquer conto de fadas, é sempre necessário uma moral de história, no caso de Frozen, encarar seus medos, assumir sua própria personalidade e encontrar o amor verdadeiro! Vale a brincadeira interessante que os estúdios construíram com o nome do filme "Frozen" e a evolução que a história faz, na transformação de um "Frozen heart" (coração gelado) até o encontro do 'True Love" (amor verdadeiro). Sutil e encantador!


Let It Go

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O amor é a flor da pele e eterno!

“Antigamente, se alguém tivesse um segredo que não quisesse partilhar, subiam uma montanha, procuravam uma árvore, abriam um buraco nela e sussurravam o segredo para dentro do buraco. Por fim, cobriam-o de lama e lá deixavam o segredo para sempre” A frase acima é dita por Chow Mo-Wang a seu amigo Ping, no filme Amor à Flor da Pele (2000), do diretor chinês Wong Kar-Wai, em uma das histórias de amor mais bem contadas do cinema, segundo muitos críticos. Kar-Wai consegue em seu filme dedicar ao amor a tradução que talvez mais o represente: a eternidade, ou o popularmente, até que a morte nos separe. Na história, conhecemos sr. Chow e a srta. Li-zhen Chan, os dois se mudam para Hong Kong da década de 60 com seus respectivos cônjuges no mesmo dia, onde ocupam quartos vizinhos de um mesmo edifício. Em comum, além do lugar onde vivem, os dois tem a ausência total dos parceiros, e posteriormente uma descoberta: seus cônjuges estão tendo um caso entre si. A descoberta aproxi

Volver

Falar de Almodóvar nunca é fácil. Uma das características do cineasta espanhol é seu atrevimento e coragem em propor nas telas seus conceitos e ideias. E é de atrevimento e coragem que se faz esse texto, ao tentar transpor em palavras um pouco de um dos filmes que mais aprecio em sua filmografia: Volver. Volver conta a história de Raimunda (Penélope Cruz), mulher casada e com uma filha de 14 anos, que ainda tenta superar a morte de sua mãe, enquanto cuida da tia. A personagem de Cruz, inclusive, é quem carrega o filme por completo e dá alma à trama. Cada cena da atriz renova o filme, que composto por um excelente roteiro, nunca deixa a história se esvair ou perder força. Não à toa, em muitas vezes vemos Penélope enquadrada ao centro da tela, tomando para si toda a sustentação do longa. Traduzindo essa percepção para a personagem Raimunda, é assim que ela também encara a sua vida. Uma vez que, mesmo com um casamento complicado, dificuldades financeiras crescentes e um passado

Sobre jornalismo, marketing e uma das maiores tragédias do país

Eu não entendo de prevenção de desastres, gestão de crises e ações do governo, mas entendo de jornalismo e marketing. E sobre esses dois pontos, a história tende a julgar o que aconteceu esta semana no país.  Jornalismo: Não é a maior tragédia do estado, é uma das maiores tragédias do país, e as demais regiões do Brasil demoraram ou ainda não estão entendendo o tamanho dessa escala. E parte dessa culpa recai sobre a mídia. A nível nacional não houve plantão, a programação seguiu sua transmissão normal e pouca, muito pouca prestação de serviços. O fato foi comunicado apenas de maneira jornalística. Em tragédias, o jornalismo deixa de ser veículo de comunicação e passa a ser serviço público. Para não ficarmos apenas pensando em TV e rádio: eu assino uma newsletter diária de notícias que chega para milhões de pessoas em todo o país. No dia 2 de maio, a newsletter utilizou três linhas para comunicar sobre o Rio Grande do Sul. Três linhas. O jornalismo não é mais mecânico, e os termos, as