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Sob Um Céu de Blues...



Talvez fosse a chuva e aquele clima ficcional formado por ela em conjunto a uma noite cinzenta de um inverno gelado. Ao mundo, era mero figurante ao qual contracenava junto à soberania dos demais protagonistas em cena. Uma parada de ônibus vazia, uma longa baforada de cigarro e tudo que prossegue pertence àquela visão, a qual me via atuante.

De cenário rotineiro a muitos para irreal a poucos, este me valeu o papel e a caneta para transcrever minha pequenez, transparecer tal fragilidade, tomar nota de algo que não é meu, tampouco daquele qual viveu certo passado. O que escrevo pertence apenas aquela noite, a qual por meros segundos fiz parte.

O cheiro de chuva conforta. Tudo o que queria era estar só, fazer-me grão-maior do pouco que era. Aquele espaço de tempo me elevou a outro mundo, este sem propósito, apenas como uma visita a um cenário do qual já sabia o caminho, mas não como encontrá-lo.

Alívio! De saber de sua existência, de modo inconsciente, mas que leva peso ao entrar em contato com a consciência. Ter um vislumbre, mesmo que rápido e passageiro, mas que perdura em uma memória consciente de que o inconsciente ousa trabalhar sem minha autorização, mas em total acordo com meu desejo. É nele que ficam depositadas minhas crenças de algo maior e além da rotina. Uma rotina frustrada e da incessante necessidade de mudança.

A palavra, o livro, o filme, o som, uma atitude, uma pessoa, uma tarde, um amor! Manifestações do inconsciente que interagem com real e deixam este plano em desacordo com o que ele mesmo diz ser, chama-se inesperado! Aquilo que ninguém espera é o que cada um precisa. Um local onde o próprio propósito da vida perde o rumo e as portas do destino se abrem ao inusitado. Era onde estava!

Os ônibus seguiam passando, um após o outro, eram estes os propósitos tentando me levar de volta à vida a qual eu pertencia. Perdi a conta de quantos tentaram tal iniciativa falha. Persistia ao improvável, buscando da mais intuitiva forma alterar tudo em minha volta. Fiquei ali, enquanto a chuva caia, eu fiquei, na espera do inesperado, seja lá onde ele estiver!

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