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Sobre originalidade e a última carta de Jeff Bezos aos acionistas

 No último dia 15 o até então CEO da Amazon, Jeff Bezos, escreveu sua última carta aos acionistas antes de deixar o cargo para assumir a função de Presidente do Conselho da empresa. Dentre as análises de números e visões de futuro ambiciosas, Bezos reservou para sua última mensagem o que talvez seja um dos segredos que trouxe a Amazon para a potência que é hoje: a diferenciação.



Para justificar seu ponto ele recorre a biologia, e uma citação do livro O Relojoeiro Cego, de Richard Dawkins:

“Protelar a morte é uma coisa que você tem que trabalhar. Abandonado a si mesmo - e assim é quando morre - o corpo tende a voltar ao estado de equilíbrio com o meio ambiente. Se você medir alguma quantidade, como a temperatura, a acidez, o conteúdo de água ou o potencial elétrico em um corpo vivo, normalmente descobrirá que é marcadamente diferente da medida correspondente nas redondezas. Nossos corpos, por exemplo, costumam ser mais quentes que o ambiente e, em climas frios, eles precisam trabalhar muito para manter o diferencial. Quando morremos, o trabalho para, o diferencial de temperatura começa a desaparecer e acabamos na mesma temperatura do nosso entorno. Nem todos os animais trabalham tão arduamente para evitar o equilíbrio com a temperatura ambiente, mas todos os animais realizam trabalhos semelhantes. Por exemplo, em um país seco, os animais e as plantas trabalham para manter o conteúdo fluido de suas células, trabalham contra a tendência natural de a água fluir delas para o mundo externo seco. Se eles falharem, eles morrem. De maneira mais geral, se os seres vivos não funcionassem ativamente para evitá-lo, eles acabariam se fundindo com o ambiente e deixariam de existir como seres autônomos. Isso é o que acontece quando eles morrem."

A interpretação que Bezos faz do texto é uma mensagem de originalidade, de fuga do trivial, que serve tanto para empresas, quanto para pessoas. Uma empresa que se mantém a mesma durante anos, ou seja, “se fundindo com o ambiente”, tendem a morrer. Tratando-se de pessoas, talvez a morte se traduza para comodidade, na lógica da facilidade. É fácil ser normal, é fácil seguir os passos dos outros, é fácil se moldar ao ambiente, é fácil não opinar, é fácil ignorar os problemas. O modo como fomos educados e somos socialmente aceitos é o de se moldar a padrões pré-estabelecidos.

Há uma frase muito famosa atribuída para Alexandre Graham Bell que diz: “Se andarmos apenas por caminhos já traçados, chegaremos apenas aonde os outros chegaram”. Graham Bell foi um inventor, assim como Bezos, que se auto intitula um e que hoje é o homem mais rico do mundo. O caminho que Bezos, Bell e vários outros fizeram não existiam, foram criados. 



Mas a questão aqui não é descobri o segredo de um bilionário, é simplesmente entender seu ponto de vista. Lembremos que a Amazon nasceu em uma garagem, quando a internet engatinhava, quando não existia e-commerce, e apostando na ideia de que vender livros online daria certo. Hoje ela vale 8,3 trilhões de reais.

Esse mesmo homem finalizou sua carta com a seguinte mensagem: “O mundo sempre tentará tornar a Amazon (insira aqui o seu nome ou da sua empresa) mais uma - nos colocar em equilíbrio com nosso meio ambiente. Exigirá um esforço contínuo, mas podemos e devemos ser melhores do que isso.” O que significa esse “melhor” também é individual para cada um. Pode ser tocar um instrumento, construir uma carreira, defender uma causa, oferecer educação para os filhos, ser uma empresa sustentável. 

Para finalizar, uma última frase, agora de um pensador brasileiro: Mário Sérgio Cortella já cansou de repetir em suas palestras: “Faça o teu melhor, nas condições que você tem, enquanto não tem condições melhores para fazer melhor ainda”. É um pouco disso né? Fugir do esperado, fazer o diferente, não se igualar aos seus arredores, construir o seu caminho, ser você mesmo, ser original.

Para ler a carta completa de Bezos clique aqui.

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