Cada vez mais surgem indícios de que a internet e principalmente as redes sociais, vem deixando de ser um espaço para multidões e se transformando em pequenas audiências (em alguns casos nem tão pequenas assim). A dúvida agora é como as marcas vão migrar para esse novo cenário.
O ano era 2005, a internet se espalhava pelo mundo e com a chegada das redes sociais e dos e-commerces se torna parte da nossa vida. Era o surgimento da web 2.0 e de um novo canal de troca de experiências, opiniões e negócios.
Tudo encaminhava para uma expansão desse conceito, e da internet trilhar seu próprio caminho para torna-se um local livre e global. Mas o cenário que temos hoje parece não seguir mais esses preceitos, e o que percebemos é um movimento maior para fugir das grandes discussões e uma busca por lugares e opções reservadas e que gerem uma aproximação maior do usuário com seus interesses ou daquilo que ele deseja.
Os gigantes da tecnologia, ao perceber essa “fuga dos holofotes”, visível na queda de inscritos e no engajamento de seu público vem trabalhando há algum tempo com opções para discussões mais seletivas e privadas. É o caso dos grupos no Facebook e Linkedin e da opção Melhores Amigos no Instagram.
Os podcasts, a curadoria de conteúdo feita para newsletter e o Telegram surfam essa mesma onda, uma vez que entregam discussões e conteúdo mais qualificados e exclusivo, sem a preocupação com superexposição.
Vale lembrar que estes espaços de nicho não necessariamente revelam menor audiência. Bem ao contrário. O jogo online Fortnite, por exemplo, mais do que um game online, tornou-se uma comunidade de 200 milhões de jogadores. 200 milhões de pessoas, invisíveis para a internet e reunidas em uma única plataforma. O Twich, plataforma de streaming de vídeos onde gamers transmitem seus jogos e interagem com os fãs, é outro exemplo, com visualização média de 43 milhões por mês.
Este cenário nos faz questionar a posição das marcas e das próprias plataformas para essas tendências. Algumas geram um match perfeito. Nike, Marvel e NFL, por exemplo, já podem ser vistas dentro dos mundos de Fortnite. No entanto, entrar mais afundo nesses nichos envolve muito mais conhecimento sobre o público e como abordá-lo.
98% do faturamento do Facebook vem de publicidade, e segundo uma pesquisa americana, estima-se que 38% das pessoas abaixo de 30 anos só utilizam o Facebook para mensagem privadas. O que diminui o poder de pacto da plataforma para as marcas.
Estes cenários só reforçam e reiteram a importância de entender e conhecer seu público, estar aonde ele está e entregar conteúdo agregador. O Youtube é um ótimo exemplo. Costumo dizer que não acesso o Youtube para assistir os vídeos do Google (proprietário do site), muito menos porque a plataforma tem uma interface amigável e os vídeos não travam. Estou lá pelo conteúdo gerado pelos criadores. Lá estão os canais onde estou inscrito e solicito notificações de novos conteúdos. O Youtube é apenas o site que hospeda os canais que me interessam.
Fazer propaganda no Youtube ou no Facebook, por mais que muito bem segmentada e direcionada, está hoje para o que anunciar em jornal ou revista estava no início dos anos 2000.
E o olhar das empresas para essas plataformas tende a ser o mesmo. Fazer propaganda no Youtube ou no Facebook, por mais que muito bem segmentada e direcionada, está hoje para o que anunciar em jornal ou revista estava no início dos anos 2000. Você encontra seu público, impacta ele, mas as chances de prospecção ou retenção, como os próprios gráficos dessas plataformas mostram, é bem baixa.
Essa própria forma analógica de pensar (fazer propaganda e impactar o público) não vai de encontro a o que a internet e a então web 2.0 tende a proporcionar às marcas. Marketing digital é entender, engajar, conversar e principalmente criar relacionamento com seu público. Se uma marca não faz isso, ela simplesmente está fazendo propaganda analógica na internet.
Inspirações e aprofundamento do tema:
A era da mídia social anti-social. Disponível em: https://hbrbr.com.br/a-era-da-midia-social-anti-social/
The Dark forest theory of the internet. Disponível em: https://onezero.medium.com/the-dark-forest-theory-of-the-internet-7dc3e68a7cb1
Beyond the Dark forest theory of the internet. Disponível em: https://onezero.medium.com/beyond-the-dark-forest-a905e2dd8ae0
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