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Mulher Maravilha (Wonder Woman, 2017)




Mais do que importante, Mulher Maravilha é um filme necessário para os tempos atuais.





Mulher-Maravilha não é um filme perfeito ou impecável, passa longe disso. Mas cumpre muito bem o papel para que veio: oferecer um grande filme de super heroí/heroína, e uma história que mesmo voltada ao entretenimento, representa uma visão ainda preconceituosa sobre o papel da mulher.
Ambientado no início do século XX, durante a 1ª Guerra Mundial, o longa apresenta Diana (Gal Gadot) como a princesa de Themyscira, filha de Zeus com Hippolyita (Connie Nielsen) e que acidentalmente encontra o capitão (Chris Pine) e que parte com ele para salvar o mundo de Ades, o Deus da Guerra.

Embora conte com passagens que somam clichês, o filme teu seu tempo e confia em sua história, o que é de extrema importância para sua narrativa. Gadot interpreta uma Diana decidida e ao mesmo tempo ingênua, mas que nunca se deixa esconder, sempre sabendo seu papel para a trama. É um ponto importante, pois a atriz é a cara e a vitalidade do filme, estando presente em praticamente todas as cenas.

Muito da importância dada a protagonista vem da diretora Patty Jenkins, que ao desenrolar da trama transforma Diana, de uma garota curiosa para uma heroína super poderosa. E durante essa caminhada, Jenkins discute, além do autoconhecimento de Diana sobre ela e sobre o mundo, a própria sociedade machista que ainda faz parte da nossa sociedade.

E um dos primeiros méritos do longa é ficar atento a seus extremos. Diana nunca é vista como a salvação vinda dos céus, como também não se vitimiza em situações que é pressionada. Na cena mais icônica do filme, e porque não da história dos super-heróis no cinema, a representação de Diana tomando a frente para avançar uma linha de guerra é a metáfora perfeita a situação das mulheres. Por tomar essa iniciativa é rapidamente alvejada de tiros. Os tiros nessa cena não são somente de espingardas e metralhadoras, mas de milhares de anos de preconceitos e perseguição. Em sua posição, Diana defende-se, mas não recua. Ao contrário, torna-se motivo de inspiração para um grupo que estava ali parado, que não avançava e uma situação que até aquele momento era imutável.

O modo como enxergamos Diana também é muito representativo. Por mais que a beleza de Gadot chame a atenção a todo instante, esta nunca é o centro das atenções. Ela é sensual ao natural, não sendo necessário (e nem preciso) enaltecer esses pontos. Com isso, os closes voltam-se para a situações que importam a trama, como detalhes da armadura, os braceletes e ao rosto de Gadot.
Jenkins também se preocupa em reverenciar o símbolo da Mulher Maravilha. Em certa cena, após saltar para destruir a torre de uma igreja aonde um atirador estava escondido, ela surge como figura divina enquanto é aplaudida por todos. Sabendo da representação que tem, ela então desce da torre ficando ao mesmo nível daquele que antes a saudavam. Não ao acaso também, a destruição da torre da igreja é um símbolo de luta contra uma instituição que por muito tempo oprimia as mulheres e segue tento sua alta cúpula totalmente formada por homens.



Por essas críticas, Diana torna-se também um símbolo das minorias, tratando de lutar pela justiça a todo o instante e próximo daqueles que precisam de alguém para os representar contra aqueles que buscam o poder ou nele permanecem. Não à toa, o grupo que a acompanha em sua jornada trata do dilema de ser totalmente desnecessário – uma vez que Diana poderia sozinha parar a guerra, ao mesmo tempo em que é fundamental, sendo a representação mais clara da natureza de Diana e seus ideais de justiça e bondade.

Em um momento curto, porém de importante reflexão, Diana mostra-se frustrada por não entender como as leis deste mundo funcionam, e questiona-se se sua causa tem fundamento. Em resposta, ouve de seu parceiro que seu sonho era ser ator, mas por nascer “com a cor errada” optou por outros caminhos.

É nesse ponto que o filme passa por cima de todas as suas falhas para construir um sentimento que ultrapassa as telas. Até sua data de lançamento o universo dos heróis era carente que um bom representante para o público feminino, que se limitavam a espaços como coadjuvantes e filmes ruins (Catwoman e Elektra, por exemplo). Se essa nova geração de crianças nasceu comprando máscaras do Homem de Ferro, camisas do Homem Aranha e mochilas do Capitão América, faltava a identificação feminina. Gal Gadot e a sua Mulher Maravilha chegam para estancar esse lugar. Por isso, é praticamente obrigatório que os pais apresentem esse filme a elas. A imagem de um empoderamento e de uma representação necessária, que pode inspirar um novo olhar sobre si mesma e seu sexo.

Não a toa, as cenas de Diana criança, logo na abertura do longa, mostram uma garota corajosa e ansiosa, tanto que se esconde para assistir as demais Amazonas lutarem, quase explodindo sua vontade de ir para o front. Assim como a personagem Mulher Maravilha ansiava por surgir ao grande público e as crianças dessa geração ansiavam por alguém que as representasse.

Manter a Mulher Maravilha viva (e não excluída das telas, como esteve por 76 anos), é muito importante para o mundo, como uma personagem que representa uma luta. Não a toa, desde 2015 ela é Embaixadora Honorária para as Mulheres e Meninas pelas Nações Unidas. O objetivo da instituição com isso é utilizá-la nas mídias sociais da ONU para promover a igualdade de gênero e a total participação feminina na vida pública. Uma prova da necessidade e importância deste filme para a sociedade atual. E também um questionamento, afinal: porquê demorou-se tanto para ela receber de fato sua obra e porque a personagem é tão subestimada, mesmo sendo uma deusa imortal (e até mesmo vista como fraca), quando comparada a outros heróis mais populares como Batman e Superman.

Por fim, Diana, assim como todo super-herói, representa a luta por um mundo melhor aonde o bem vence o mal. Porém, mesmo sabendo de sua natureza divina, optar por ficar entre nós mortais por entender que com ela, apesar de não curado, o mundo poderia ser um lugar melhor.

Diana está certa, um mundo sem mulheres, ou com elas ocupando papéis inferiorizados ou oprimidos na sociedade não seria/é um mundo bom. Quem sabe a busca por justiça, seja ela de sexo, de raça, de gênero, de respeito, de tolerância, de empatia e de oportunidades, represente um caminho para um futuro um pouco melhor diante da realidade que temos hoje. E que não precisemos de uma deusa para derrotar Ades. Que nossa própria bondade não dê espaço para ele crescer!






Comentários

  1. Foi uma ótima decisão retornar a essa heroína e fazê-lo de maneira tão impressionante. As meninas precisam de um modelo e, embora tenham removido a Mulher Maravilha como representante da ONU por ser "sexy demais", isso é muito importante. Gal Gadot esta impecável. O papel que realizo em mulher maravilha filme é uma das suas melhores atuações. Ela sempre surpreende com os seus papeis, pois se mete de cabeça nas suas atuações e contagia profundamente a todos com as suas emoções. Além, acho que a sua participação neste Fdc comics filme realmente ajudou ao desenvolvimento da história.

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