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Sobre o tempo




Tenho uma paixão que é de conhecimento geral: o cinema. E tenho um arquirrival que bloqueia meus antigos encontros semanais (houve épocas que diários) com a sétima arte: o tempo (ou melhor dizendo, a falta dele). Cansado de procurar espaços em agendas cada vez mais cheias, busquei uma solução para uni-los. Algo que não me alienasse do cinema, mas que também não consumisse todo o meu tempo. A solução encontrada foi simples e prática: curtas-metragens. Pílulas cinematográficas de 5 a 10 minutos que envolvem boa parte da essência que os filmes proporcionam.
                Quisera o destino que uma das primeiras películas que assisti tratava do assunto que foi o motivo da minha vinda ao mundo dos curtas: o tempo. E é sobre ele que me debruço durante esse texto. O curta em questão chama-se Contre Temps, uma produção francesa de 2012 produzida pela Supinfocom, uma das mais respeitadas escolas de animação do mundo.  

                Tempo é questão de prioridade! A frase é batida, mas tem todo sentido. O próprio estar “sem tempo”, revela as escolhas que tomamos para a nossa vida. Escolhi uma vida agitada e de muitos compromissos, em troca de outra mais calma, onde encontro mais tempo para fazer o que sinto prazer. Escolhas!
                Porém, a principal reflexão que colhi assistindo ao curta foi: com o que preencho meu tempo? A decisão do homem por uma busca interminável pelos relógios (o tempo), mostra como somos acostumados a garimpar incessantemente por uma forma de controlá-lo, e de tanto garimpar, acabamos escravos dele. A questão é que a resposta não está no tempo, mas sim nas nossas escolhas e decisões. O tempo é apenas a ferramenta, o meio pelo qual caminhamos em busca de algo que projetamos. Alguém, certa vez, sabiamente falou que “somos frutos de nossas escolhas”. Uma destas escolhas é encarar o tempo como aliado ou como inimigo. Como aliado, podemos imaginar ações que joguem a favor do tempo, girando-o no sentido horário, e consequentemente fazendo-os evoluir junto a ele. Como inimigo, talvez o retrocesso, o não aprendizado e a procrastinação resultem no revés por não compreender como o enrolamento do relógio funciona. Porém a maior de todas seria a falta de um lugar para se chegar. O tempo é a ferramenta, o meio, no entanto, nunca a chegada. No País das Maravilhas, o coelho era refém do tempo, corria preocupado com horários, nunca tirava os olhos do relógio, porém não sabia para onde ir ou aonde chegar. Correr e não chegar a lugar algum também é ficar parado no tempo!
                Por outro lado, correr sem apreciar a vista, talvez não seja perder tempo, pois nem todas as oportunidades surgem na nossa frente. Muitas podem aparecer ao lado, é preciso olhar. É quando, no curta, o homem encontra a garotinha. Escondida e não se importando muito com os tantos relógios por lá dispersos. Ela tinha o seu, não desgrudava dele, porém dividia sua atenção com outros objetos. Foi ela quem tirou o homem de sua rotina, foi ele que a fez correr.
                A garota nos mostra que por mais que a maré suba, ou que o tempo seja escasso, é importante sim, aproveitar os momentos que ele próprio nos oferece. Muitos confundem felicidade como um destino, sendo que ela se faz presente quando nós desejamos. Aproveitar o tempo para curtir a sua felicidade (e não esperar para conquistá-la) pode ser uma decisão sábia, afinal, se o futuro é construído pelo nosso passado, lembranças boas e felizes podem ter seu valor realçado com o tempo.https://mail.google.com/mail/ca/u/0/images/cleardot.gif
No final do curta, ambos acabam fugindo da elevação do nível da água. O homem persiste em seu olhar apático, sério, talvez preocupado com mais relógios para encontrar. Já a garota, relutante, agarrasse ao seu relógio e segue na mesma direção. Talvez no final seja este o propósito para todos nós, assimilar o tempo nessas duas dimensões, utilizando-o ao nosso favor, como ferramenta para nossas escolhas e decisões, e, ao mesmo tempo, como forma de aproveitar dia após dia, as melhores coisas da vida. Afinal, como mostra a última cena do curta, um dia o tempo acaba! Como será a caminhada ate lá, você que decide!

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