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Uma Palavra com o Rei


Já dizia Roberto Carlos, “quem espera que a vida, seja feita de ilusão, pode até ficar maluco, ou morrer na solidão...” Como bom cidadão dos anos 90, escutei esta frase pela primeira vez na voz de Paulo Miklos do Titãs, e que levei como ensinamento de vida, até lê-la novamente.

É complicado para eu concordar com tal teoria, até entendo o raciocínio do cantor mais assediado em finais de ano, mas seu pensamento me fica um pouco mal formulado, ou deixa espaço para segundas interpretações, como é o caso da minha. Entendo que “é preciso ter cuidado para mais tarde não sofrer”, mas, como ele chegou à afirmação de que “é preciso saber viver?” Bem provável que sofrendo quando não teve cuidado!

Espanta-me ainda mais o homem que cantava: “além do horizonte deve ter, algum lugar bonito pra viver em paz” ou “estou só a 200 por hora, vou parar de pensar em você, pra prestar atenção na estrada” venha me dizer que quem vive de ilusão pode até ficar maluco. Então decifro maluco como alguém que aproveitou muito bem sua vida e curtiu cada momento dela, até porque nós, habitantes do século XXI, conseguiríamos viver sem ilusão? Respondo que talvez a grande maioria diga sim! Acordar, café da manhã, trabalho, estresse, distração, cervejinha no final da tarde, casa, banho e cama. Sem ilusão, preocupação demais com problemas cotidianos, sem tempo para ela.

Mas talvez alguns poucos “sobreviventes” vejam na ilusão um modo de viver. Principalmente você, senhor que beija rosas em final de show, pode se considerar um destes perdidos, ou suas composições foram inspiradas em um ambiente de escritório cor pastel? A ilusão é um dos poucos motivos que talvez despertem um “up” a mais e cada um destes “desacreditados” com o atual modo de vida da humanidade. Uma ida ao cinema, o novo cd do Bod Dylan, uma peça de teatro, isso não é ilusão? Não, novelas não, reality shows não! Essa ilusão é a errada, traduzo-a como adestramento, manipulação!

A ilusão boa, ao contrario do que o rei da jovem guarda diz, é o que precisamos para não pirar nesse mundo, aquela que alivia, servindo como válvula de escape de um mundo que nunca para. Alguns não precisam dela, (adestrados?) já outros não conseguem ficar sem. Sugiro um teste: mantenha-se um mês sem nenhum contato com algum o modo de ilusão boa. Sem livros, cinema, música, programas culturais, conversas com conteúdo... Troque tudo por revistas de fofoca, filmes hollywoodianos, músicas populares, falar mal da vida dos outros e não perca um episódio da novela das oito que começa as nove! Se você resistir a este mês, sugiro que procure ajuda imediatamente!

Ao final, como segue a música “mas se você caminhar comigo, seja qual for o caminho eu te digo, não importa aonde for, eu tenho o amor...” entendo o porquê de escrever tal letra. Talvez a ilusão de nosso rei não seja com a vida, mas com seus protagonistas, quem a iludem, maltratam e a transformam em arena (não palco) de circo ou que apenas brincam com ela ou com outros protagonistas que tentam deixá-la menos concreta e mais ilusória.

Então não importa se “toda pedra no caminho você deve retirar” algumas serão impossíveis, então as contorne. Se com “uma flor tem espinhos, você pode se arranhar,” alegre-se com os espinhos que protegem essas flores, existiria graça em conquistar flores sem o desafio imposto pelos espinhos? A verdade é que “se o bem e o mal existem e você que pode escolher” (e aí levariam mais dois textos para traduzir melhor estas duas palavras antônimas) escolha sempre o que caminho que te mantém com os pés no chão, mas com a cabeça livre pra voar! Não se iluda, mas use da ilusão! Não seja iludido, mas iluda todos que convivem com você mascarando defeitos, revelando qualidades. Viva uma ilusão sua, e aprenda do seu modo o que é preciso para saber viver!

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